Impacto da pandemia da COVID-19 no diagnóstico, manejo e desfechos no câncer de ovário: uma revisão sistemática e meta-análise

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Teixeira, Lorena Alves
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17145/tde-25092024-105553/
Resumo: A pandemia da COVID-19 impôs desafios sem precedentes ao sistema de saúde global, impactando particularmente o diagnóstico e tratamento do câncer de ovário, conhecido como a neoplasia maligna ginecológica de maior letalidade no mundo. Com aproximadamente 75% das pacientes diagnosticadas em estádios avançados, compreender as repercussões da pandemia na linha de cuidados e nos desfechos dos tumores malignos de ovário é fundamental. O objetivo desta revisão sistemática e meta-análise foi sintetizar as evidências científicas sobre o efeito da pandemia de COVID-19 no diagnóstico, manejo e desfechos dessa doença. Este estudo seguiu a declaração PRISMA-2020 e a orientação COSMOS-E. Conduzimos buscas nas bases de dados PubMed, EMBASE, Web of Science e CINAHL até 31 de dezembro de 2023. A Ferramenta de Avaliação de Risco de Viés da Cochrane e a Escala Newcastle-Ottawa (NOS) foram utilizadas para avaliar cada estudo. Conduzimos sínteses qualitativas e quantitativas, utilizando o software R (versão 4.3.2) para meta-análises. Estas abordaram os riscos relativos (RRs) para estadiamento oncológico e taxa de modificação terapêutica pelos modelos de efeitos fixos e aleatórios. O protocolo deste estudo encontra-se registrado no International Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO), número CRD42021289875. Incluímos 25 estudos abrangendo 9.699 casos durante a pandemia (1° de janeiro de 2020 a 31 de dezembro de 2021) comparados a 14.847 casos pré-pandêmicos em 22 estudos (1° de janeiro de 2013 a 17 de março de 2020). Nove estudos, englobando 65% da amostra total de casos de câncer de ovário, relataram redução nos diagnósticos (-9,7%; variação: -56,2% a -1,9%), enquanto dez estudos observaram aumento (9,5%; variação: 0,8% a 245%). A meta-análise de estadiamento identificou aumento significativo de 23% na probabilidade de estádios FIGO IV ao diagnóstico na pandemia (RR=1,23; IC95% 1,02 a 1,48) no modelo de efeitos aleatórios. Além disso, 16 estudos destacaram variações substanciais nas abordagens e modificações terapêuticas, variando de - 48% a 400% em cirurgias, -18% a 104% em quimioterapia neoadjuvante e 0% a 104% em cancelamentos, adiamentos e mudanças no plano terapêutico, mostrando a abrangente repercussão da pandemia da COVID-19 na complexidade da linha de cuidados desses tumores. A meta-análise de seis estudos com baixo risco de viés (NOS 8-9) revelou uma mudança notável no plano terapêutico de cirurgia citorredutora primária para quimioterapia neoadjuvante (N=991) comparando-se ao período pré-pandêmico (N=1.550). Os resultados correspondem a um aumento significativo de 10% na probabilidade de mudança no plano terapêutico a favor da quimioterapia neoadjuvante decorrente da pandemia (RR=1,10; IC95% 1,03 a 1,18) no modelo de efeitos fixos, com ausência de heterogeneidade (I2=0%; &tau;²<0,0001; p=0,51) entre os estudos. Os dados combinados são consistentes com as recomendações das sociedades especializadas e destacam a adaptação das práticas clínicas às limitações impostas pela crise sanitária global. Apesar dessas alterações, nenhum impacto negativo significativo no tempo para o tratamento primário e nos desfechos de curto prazo foi observado, embora um estudo tenha relatado uma redução na eficácia da citorredução cirúrgica em casos mais complexos e avançados em comparação ao período pré-pandêmico. A pandemia da COVID-19 impactou significativamente o diagnóstico e manejo do câncer de ovário, resultando em disparidades nas proporções de casos e preferências de tratamento. Notavelmente, destaca-se a tendência ao diagnóstico dos casos metastáticos e à adoção da quimioterapia neoadjuvante. Esses achados ressaltam a urgente necessidade de estratégias de tratamento adaptativas em resposta a cenários de crise. Estudos prospectivos são essenciais para avaliar o impacto da pandemia da COVID-19 nos desfechos de longo prazo.