O horror cósmico de H. P. Lovecraft como expressão da barbárie do mundo administrado

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Ramos, Carlos Eduardo
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-29102024-175209/
Resumo: Howard Phillips Lovecraft (Providence, Rhode Island, 1890-1937) é considerado um dos autores mais importantes da literatura de horror moderna por sua produção de contos fantásticos de horror cósmico, caracterizados pela exploração de temas relacionados à vastidão do universo, da extensão do tempo e do espaço e à posição de insignificância e de impotência ocupada pela humanidade no universo. Seus contos apresentam, a partir da criação de uma mitologia própria, a proposta de suscitar em seus leitores o medo em relação ao desconhecido e ao infamiliar. Tendo escrito boa parte desse material nas primeiras décadas do século XX, seus temas estão também relacionados aos medos presentes na constituição de indivíduos que presenciaram a primeira guerra mundial, que observaram o desenvolvimento industrial e científico acelerado, crises econômicas e uma série de transformações políticas e sociais que estavam em curso. Sua produção artística expressa o processo de regressão e barbárie que acompanhava o mundo administrado e sua organização na época e que ainda persiste no século XXI. Esses temas coincidem com alguns daqueles realizados pelos teóricos da Escola de Frankfurt, assim como o da função da arte e suas possíveis contribuições para a experiência e formação dos indivíduos. A partir dessas considerações, esta pesquisa trouxe como objetivo central investigar o modo como a produção ficcional de H. P. Lovecraft pode trazer contribuições para uma experiência estética capaz de promover o contato com as manifestações de formas essenciais do medo e, desse modo, possibilitar sua reflexão. O método é dialético, com base na perspectiva da teoria crítica da sociedade. O material desta pesquisa, de natureza bibliográfica, foi uma seleção de contos do autor, analisados à luz do pensamento de autores como Theodor Adorno, Walter Benjamin e Herbert Marcuse. A fundamentação teórica detevese sobre conceitos como subjetividade, cultura e pseudoformação; a caracterização da literatura fantástica e de horror sobrenatural; aspectos de forma e conteúdo relativos às obras de H. P. Lovecraft; e a importância do sublime na literatura para a formação. A partir da análise dos contos, foram encontradas relações entre os aspectos de forma e de conteúdo trabalhados pelo autor e os modos de controle e de dominação da natureza marcados por uma racionalidade técnica, pela barbárie e pelo medo, característicos das condições de vida encontradas no mundo administrado. Os principais temas levantados foram as referências científicas, mitológicas e artísticas na composição dos contos; críticas ao ocultismo; a regressão à barbárie no contexto de guerra; a constituição do autoritarismo pelo patriotismo; as neuroses de guerra; o desaparecimento do tipo intelectual; a formação de seitas e o fanatismo; e a noção de ameaça iminente do fim. Conclui-se que, embora o conjunto de sua obra seja heterogêneo, percebe-se a presença de um rico material que explora, pela via do medo, o caminho de regressão da sociedade e a adesão de seus membros a ideias e políticas desastrosas, bem como um ataque ao narcisismo pela exploração do sublime. Desse modo, sua obra possibilita o contato com medos que, se trazidos à consciência e refletidos por meio da relação com a arte, podem ter reduzidos seus efeitos deletérios no processo de formação dos indivíduos.