\'Quase\' como antes: a (des)construção das representações de infância da classe trabalhadora na literatura infantil e juvenil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Tavares, Fabiana Valeria da Silva
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8156/tde-22012015-182220/
Resumo: Este trabalho visa a apresentar um estudo investigativo do processo de construção e desconstrução das representações da infância da classe trabalhadora na literatura infantil e juvenil inglesa e brasileira. Para tanto, estabelecemos, a priori, no Capítulo I, as bases conceituais de nosso trabalho, bem como tratamos das esferas culturais, econômicas, políticas, ideológicas que propiciaram o surgimento do conceito de infância da classe operária durante a Revolução Industrial, e investigamos de que forma interesses de formação da mão de obra trabalhadora e movimentos sociais e filantrópicos, assim como obrigações legislativas fizeram com que a jornada de trabalho infantil fosse paulatinamente diminuída e os diversos tipos de ensino fossem instaurados, de acordo com o contexto socioeconômico em questão. A seguir, a tentativa de traçar um perfil literário histórico e social que demonstre as diversas representações da infância da classe trabalhadora na Inglaterra e no Brasil ou a ausência delas --, procedemos à análise de obras literárias representativas da condição da criança que fosse filha de trabalhadores ou ela mesma trabalhadora. Assim, no Capítulo II, iniciamos nossa exploração através da análise de Kim, de Rudyard Kipling, e O Jardim Secreto, de Frances Hodgson Burnett, bem como de Os meninos e o trem de ferro, de Edith Nesbit, para discutirmos representações de classe e infância entre as personagens, bem como sua relação com o espaço habitado e a relação dialética entre base e superestrutura existentes tanto na literatura relativa à colônia inglesa quanto ao território inglês, e então partimos para a análise de Saudade, de Tales de Andrade, como obra exponencial do projeto político-pedagógico de uma República ainda em construção e carente da formação de uma identidade nacional, e colocamos em evidência as relações entre o protagonista e as demais personagens e o espaço do campo e da cidade, como forma de ressaltar a visão utópica e idílica da comunhão da criança com a natureza como base formadora ideal de uma civilização. No capítulo III, avançamos na história para abordarmos Ballet Shoes, de Noel Streatfeild, primeiro livro de uma série das irmãs Fossil, adotadas por um arqueólogo na Londres dos anos 1930 e que, diante do desaparecimento deste, se vêem forçadas a trabalhar para garantir a subsistência. Neste contexto, exploramos questões de cunho social e histórico e discutimos representação de classe, infância e trabalho, numa tentativa de estabelecermos um ponto de diálogo com o conto Negrinha, de Monteiro Lobato, e aí retomarmos, no contexto nacional de uma república herdeira de uma tradição escravocrata, a relação entre família, trabalho e infância na existência da protagonista. Ainda na discussão da relação de infância, classe e trabalho, o Capítulo IV apresenta uma análise de A fantástica fábrica de chocolate, de Roald Dahl, e Açúcar amargo, de Luiz Puntel, para contrapor as visões do modo como a criança da classe trabalhadora volta a ter sua infância cada vez menos idealizada e mais inserida na realidade adulta do trabalho, da desestrutura familiar, da falta de recursos materiais e da necessidade de garantir sua subsistência. O Capítulo V apresenta não obras emblemáticas ou definitivas sobre o tema, mas novas possibilidades de leitura social inglesa e brasileira da infância da classe trabalhadora e do crescimento de jovens em tais contextos, e a forma como a descoberta de cada um se dá em tais ambientes. Para tanto, apresentamos uma análise de Reviravolta, de Damian Kelleher, e Jardim do céu, de Edison Rodrigues Filho. Com este caminho percorrido, compreendemos que houve, de fato, um processo de construção de uma infância da classe trabalhadora, que ora foi maquiado pelo discurso rousseauniano do bom selvagem e da inocência, ora foi calado em detrimento da expansão de uma literatura infantil e juvenil mais centrada na figura da criança sacralizada, nos termos de Viviana Zelizer (1985), para então voltar a figurar, a partir principalmente dos anos 1980, não como representação de uma classe, mas como ser constituinte de uma sociedade multifacetada que já não comporta, há muito, mascaramentos sociais ou políticos em favor da propaganda de um ideal inexistente