Microbialitos e microfósseis da Formação Sete Lagoas, Neoproterozoico, Brasil: implicações geomicrobiológicas em um contexto de mudanças climáticas e evolutivas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: Sanchez, Evelyn Aparecida Mecenero
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/44/44141/tde-22042015-143918/
Resumo: A Formação Sete Lagoas, base do Grupo Bambuí, tem sido alvo de constantes discussões sobre o contexto temporal e ambiental sob a qual esta unidade foi depositada. Sua idade tem sido atribuída a dois momentos distintos do Neoproterozoico, e ambas têm implicações evolutivas significativas. A primeira proposta, baseadas em dados geoquímicos e litoestratigráficos,relaciona a deposição da Formação Sete Lagoas após o fim da glaciação Marinoana (do modelo paleoclimático Snowball Earth), há cerca de 635 Ma, quando mudanças paleogeográficas e geoquímicas levaram a mudanças climáticas de escala global, o quepode ter impactado significativamente na bioprodutividade do Edicarano. O segundo modelo deposicional baseia-se na ocorrência de Cloudina sp., um fóssil-guia do Ediacarano final, em níveis estratigráficos próximos à base da Formação Sete Lagoas, apontando, portanto, para uma idade mais nova que a primeira hipótese. No entanto, ambos os modelos preveem um cenário de mudanças, ocorridas no Neoproterozoico tardio, enquanto a Formação Sete Lagoas estava sendo depositada. Tais mudanças foram de natureza climática, paleogeográfica e geoquímica, que influenciaram a composição da atmosfera e da hidrosfera, e culminaram em profundas mudanças na biosfera. Propôs-se aqui uma análise pormenorizada de microbialitos e microfósseis da Formação Sete Lagoas, visando compreender como os produtores, base dos ecossistemas, teriam respondido a tantas transformações ambientais e ecológicas, além de estabelecer a abrangência estratigráfica dos microbialitos e microfósseis desta unidade. Foram analisadas tramas de microbialitos carbonáticos e precocemente silicificados, amostras de mão para comparação e dados de afloramentos. Uma avaliação de materiais reportados em meados e na segunda metade do século passado também foi necessária, tendo em vista os avanços recentes no campo da Paleobiologia do Pré-Cambriano. Os dados demonstraram que a Formação Sete Lagoas conta com uma riqueza treze formasmicrobialíticas, sendo onze detalhadas neste trabalho e encontradas ao longo de toda a formação, tanto sobre o Cráton do São Francisco, quanto sobre a Faixa Brasília, porém em baixa quantidade. Estas formas são compostas por onze tipos de tramas, cujo conteúdo biogênico em última análise, remete, mesmo que de forma reliquiar, à formas cianobacterianas recentes reconhecidas como formadoras de estromatólitos. Por outro lado, microfósseis silicificados não são comuns, e foram observados apenas em três localidades, onde já tinham sido reportados. Porém, a re-análise deste material permitiu refinar os dados e identificar cinco táxons, quatro cianobacterianos - os gêneros Siphonophycus, Oscillatoriopsis e Eosynechococcus- e um Incertae sedis - o gêneroArchaeotrichion. A baixa diversidade de microfósseis, ou seja, baixa riqueza e baixa abundância, somada à baixa abundância e densidade de microbialitos nos afloramentos analisados foi interpretada como resultados de eventos diagenéticos e tectônicos que resultaram na perda de material. Outra vertente do  presente trabalho foi a re-avaliação de estruturas reportadas como fósseis há cerca de 50 anos, cuja interpretação à luz dos conhecimentos atuais, permitiram a identificação de alguns como pseudofósseis, a reclassificação deuma espécie de acritarco esferomórfico (Leiosphaeridia jacutica[Timofeev 1966]) e de outro espécime como provável Nemiana simplexPalij 1976. De um modo geral, pode-se perceber que, embora poucos espécimes tenham sido preservados, o registro fóssil da Formação Sete Lagoas é variado e inclui microbialitos, microfósseisbentônicos e planctônicos, identificados neste trabalho, além de icnofósseis, biomarcadores e metazoários reportados em trabalhos anteriores, mas que ainda demandam novas considerações. A ocorrência vertical de microbialitos ao longo de toda a unidade e a diversidade de tramas que os compõem demonstram que a bioprodutividade não sofreu declínio com as mudanças paleoambientais, seja por conta de mudanças climáticas, se considerarmos a Formação Sete Lagoas como capa carbonática, seja pelo estabelecimento de metazoários nos ecossistemas, se a considerarmos uma unidade depositada a partir do Ediacarano tardio.