Investigação anatomopatológica e microbiológica de fascites necrotizantes letais em cães: há implicações em saúde pública?

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Ríspoli, Vívian Fratti Penna
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/10/10133/tde-27082020-075130/
Resumo: Fascite necrotizante (FN) é um processo infeccioso raro de pele e tecidos moles, que afeta fáscias do ser humano e de animais e pode apresentar desfecho fatal. Geralmente, as bactérias envolvidas podem apresentar implicações em saúde pública, como estafilococos meticilina resistente (MARS). O objetivo deste estudo foi caracterizar o perfil epidemiológico, clínico, laboratorial e anatomopatológico de FN letal em cães, investigar as bactérias envolvidas e verificar suas implicações em saúde pública. O estudo foi baseado na análise de 13 cães, de qualquer raça, idade, sexo e porte selecionados entre 2015 e 2019. Os dados epidemiológicos, clínicos e laboratoriais foram analisados a partir dos prontuários. As lesões macro e microscópicas foram utilizadas para definir a causa e condição de morte, bem como para caracterizar as lesões cutâneas, de tecidos moles e dos órgãos. Os fragmentos de pele, tecidos moles e órgãos foram processados para isolamento, identificação bacteriana e realização de antibiograma por disco difusão. Fêmea, adulta, 7 ± 4 anos, de raça definida, porte grande e em condição corpórea adequada foi o perfil dos cães. A manifestação clínica apresentou início agudo de dor associada à prostração, taquipneia, taquicardia, febre e necrose cutânea, que evoluiu em 5,85 ± 3,74 dias para choque séptico (4/13) ou eutanásia devido ao mau prognóstico (9/13). Leucocitose por neutrofilia, monocitose, trombocitopenia e redução do fibrinogênio foram as principais alterações hematológicas e de coagulação, que somadas a alterações de baixo bicarbonato plasmático, elevação da ureia, creatinina, enzimas hepáticas, bilirrubinas e hipoglicemia caracterizaram sepse com comprometimento sistêmico da função renal e hepática. As lesões macroscópicas tegumentares, subcutâneas, de fáscias e musculatura foram caracterizadas por áreas ulceradas, edema; máculas purpúricas, petéquias, equimoses, sufusões, necrose e exsudação serossanguinolenta de distribuição dorso ventral e maior acometimento dos membros torácicos, região torácica, membros pélvicos e cabeça. Microscopicamente, as lesões de pele e tecidos moles foram necrose profunda difusa associada a processo inflamatório neutrofílico, edema, hemorragia, trombose e presença de êmbolos ou colônias bacterianas intralesionais. Lesão necrótica e/ou hemorrágica pulmonar, hepática, renal, esplênica, no linfonodo, trato gastrointestinal e em glândulas endócrinas caracterizaram o processo sistêmico infeccioso. Os principais agentes bacterianos envolvidos nas lesões de pele e tecidos moles foram principalmente estafilococos, dos quais três foram classificados como MARS e seis cepas, incluindo Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis, Staphylococcus haemolyticus, Streptococcus canis, Acinetobacter radioresistens e Escherichia coli foram classificadas como bactérias multirresistentes. A participação desses agentes nas infecções cutâneas e de tecidos moles de cães chama atenção para a necessidade de identificação precisa destes e realização de antibiogramas de forma a estabelecer condutas terapêuticas eficazes e definir condutas de prevenção ambiental e dos possíveis contactantes. Assim, as FN em cães são exemplos de doenças que requerem envolvimento multidisciplinar na condução clínico-cirúrgica de emergência, internação do paciente de maneira a propiciar agilidade no diagnóstico inicial, pronto tratamento cirúrgico e terapia antimicrobiana sistêmica específica com o intuito de evitar o óbito por choque séptico. Destaca-se que esse foi o primeiro estudo a caracterizar o perfil epidemiológico, clínico, laboratorial, microbiológico e anatomopatológico de FN letal em cães.