Maternidade e imigração: tramas intersubjetivas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Choueiri, Renata Zanelato
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-08022022-140742/
Resumo: Observamos na contemporaneidade o aumento expressivo de deslocamentos geográficos que trazem a marca da exclusão, seja por crises econômicas e políticas ou por guerras, perseguições, xenofobia e conflitos religiosos. São movimentos migratórios que colocam centralidade na questão da sobrevivência em oposição a um projeto de migração escolhido, pensado e planejado. Famílias inteiras, por vezes despedaçadas, atravessam fronteiras rumo ao desconhecido, ao estrangeiro, levando na bagagem memórias de violências, rupturas e miséria. Esta pesquisa se propôs a compreender a mulher imigrante que, sustentando o exercício do papel materno, percorre tal caminho e se estabelece na cidade de São Paulo. Privilegiou-se as recém mães, com filhos de 0 a 3 anos, por ser um período de intenso investimento e por ser uma fase em que as operações psíquicas são acentuadas e constitutivas, calcadas numa relação de dependência. A pesquisa teve como objetivo compreender os processos psíquicos imbricados na experiência de maternidade dentro do contexto de migração forçada, investigando a constituição do vínculo e considerando a construção dos pactos e alianças inconscientes. Utilizamos a Psicanálise como referencial teórico, mais especificamente o arcabouço teórico que pensa o sujeito como sujeito do grupo (Kaës) e o conceito de contrato narcísico (Aulagnier). Foram realizadas entrevistas abertas (Bleger) com três mulheres africanas abrigadas com seus bebês em um equipamento de proteção social. O material obtido nas entrevistas evidenciou relevante conteúdo traumático presente na transferência, no vínculo com a entrevistadora, como uma tentativa de saída possível do psiquismo das entrevistadas diante dos elementos não simbolizados derivados do excesso de excitações provocado pelo evento traumático. Cada entrevistada, à sua maneira, se mostrou herdeira e transmissora da herança psíquica familiar e os bebês ocuparam um lugar privilegiado em seus movimentos de vida e migração. Foi possível supor a existência de um incremento nos investimentos narcísicos no vínculo com os bebês, possivelmente devido à fragmentação familiar, perda dos referenciais identificatórios e à ameaça aos processos de transmissão psíquica. A instalação de dispositivos que ofereçam espaços de fala e escuta qualificada e que permitam colocar em ação o trabalho de metabolização e representação mostrou-se profícua