Transitando entre o íntimo e o social na contramão da cisnormatividade: a experiência de ressignificação de crenças em direção ao acolhimento das identidades trans pelo sistema familiar

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Sá, Natália Nigro de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/83/83131/tde-09122019-132534/
Resumo: Trata-se de uma pesquisa qualitativa orientada pelo Interacionismo Simbólico enquanto referencial teórico e pela Teoria Fundamentada nos Dados como abordagem metodológica, com o objetivo de compreender o processo de transição de gênero no contexto da família. Utilizou-se a técnica snow ball sampling para o recrutamento de pessoas trans e familiares, agregando um total de 20 participantes. Os dados foram obtidos por meio de entrevistas individuais em profundidade e submetidos à análise comparativa, o que possibilitou identificar significados e estratégias que compõem a experiência da família que vivencia o processo de transição de gênero. Esta experiência é composta por seis subprocessos: deparando-se com a transexualidade; vivendo um paradoxo presença/ausência; buscando um sentido para a transição de gênero; vivendo os efeitos do preconceito; desenvolvendo estratégias protetivas e redesenhando relacionamentos. A articulação destes subprocessos permitiu identificar a categoria central Transitando entre o íntimo e o social na contramão da cisnormatividade, a partir da qual é proposto um modelo teórico representativo do processo de transição de gênero no contexto da família. O modelo indica um processo de interação dinâmica e não linear entre elementos intrapessoais, interpessoais e relacionais ao longo do tempo, em um contexto de estresse familiar. A adaptabilidade e a comunicação são fatores determinantes para a reconstrução de significados e crenças, o que facilita a elaboração de perdas vivenciadas ao longo do processo e promove a movimentação familiar em direção ao acolhimento da pessoa trans. Os resultados trazem avanços para o campo da saúde ao destacar a transição de gênero enquanto processo sistêmico, possibilitando que o profissional reconheça nuances socioculturais que exercem influência nas vivências trans e, consequentemente, na saúde destas pessoas e seus familiares. Conhecer os aspectos familiares da transexualidade permite integrar, estrategicamente, a qualidade interacional deste grupo social ao espectro dos cuidados de saúde integral, reconhecendo o caráter protetivo do acolhimento familiar para a saúde da pessoa trans, com destaque para a potência de atitudes maternas como agentes multiplicadoras de transformação social. Os dados revelam ainda a relevância das intervenções realizadas por psicólogos, médicos e enfermeiros, ao executar estratégias de comunicação responsável, educativa e não violenta, para os desfechos do processo de ressignificação de crenças cisnormativas, que são limitantes à compreensão e ao acolhimento familiar. Conclui-se que o profissional de saúde diante da transexualidade deve reconstruir as bases que orientam suas intervenções para além das concepções cisnormativas e alargar o reconhecimento de fatores socioculturais como geradores de sofrimento na experiência da transexualidade vivenciada pelo sistema familiar.