Self e autenticidade no campo da fenomenologia: interfaces da filosofia de Merleau-Ponty com a psicologia

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Marcon, Gilberto Hoffmann
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59142/tde-24012025-120753/
Resumo: Propomos mapear as implicações do pensamento fenomenológico de Merleau-Ponty para as temáticas correlatas do self e da autenticidade. Perpassando acepções distintas dos fatores unitário, singular e relacional da experiência humana, propomos três eixos tensionais em torno dos quais o conceito de self pode ser articulado: \"constância ou mudança\" (o self enquanto unidade), \"particularidade ou generalidade\" (o self enquanto unicidade) e \"pessoa ou mundo\" (o self enquanto relacionalidade). Identificamos que os enfoques descritivos sobre o tema tenderam a redobrar tais dilemas epistemológicos em tensões éticas, ao se reportar à questão da autenticidade. Enquanto as filosofias de Heidegger e Sartre, sob aproximações diferentes, concedem relativa centralidade à problemática da autenticidade, a fenomenologia de Merleau-Ponty, mesmo situada no diálogo direto com tais aportes de raiz comum husserliana, não concede ao tema a mesma importância de forma explícita. No entanto, perpassando as formas pelas quais sua fenomenologia propicia a abordagem de tais eixos tensionais de questões acerca do self, encontramos reflexões que apontam para uma leitura merleau-pontyana original do tema da autenticidade ou propriedade em seu duplo aspecto epistemológico e ético. Será a unidade simultaneamente temporalizada e temporalizante do corpo próprio, enquanto posse indivisa e significativa de uma orientação existencial enquanto campo transcendental a propiciar ao autor uma releitura daquilo que, no caso husserliano, se apresentava nas figurações-limite do self unitário entre o absoluto não-constituído ou como iminente auto-constituição. Tal movimento recoloca as questões interligadas da autoconsciência e da temporalidade vivida, nos conduzindo para uma compreensão não mais posicional, mas antes radicalmente situacional do self. A partir de tal noção de situacionalidade, procuramos delinear o sentido de historicidade pessoal que dela emerge (seu aspecto único), bem como a estrutura relacional com a qual o autor descreve-a operando - de uma posição ainda bastante próxima à terminologia da tradição fenomenológica pregressa ao desenvolvimento posterior de sua iminente ontologia do sensível, trajetória na qual buscamos ressaltar as continuidades definidoras de nossa temática. Ao tematizar o caráter eminentemente ambíguo da corporeidade (posse-despossessa de si enquanto abertura de um campo transcendental), Merleau-Ponty oferece uma compreensão original da experiência do self e do ser autêntico: em contraposição à possibilidade radical de recuo, a inerência radical de contato. Argumentamos que tal movimento potencialmente habilita uma apreensão descritiva do self que, sem cair em contradição, aproxima-se produtivamente do que há de indeterminação em sua concretude unitária, de generalidade em sua individuação e de passividade em sua liberdade - e vice versa, para todos os casos - movimento de reabilitação conceitual que delineia um aporte merleau-pontyano próprio à compreensão do sentido de autenticidade do self de maneira relevante à sua discussão contemporânea.