Entre polos : a política como elemento meta-histórico no Brasil oitocentista

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Martins, Amanda da Silva
Orientador(a): Cezar, Temistocles Americo Correa
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/215311
Resumo: Esta tese tem como objetivo refletir sobre as relações entre a política e a escrita da história no Brasil entre os anos 1854 e 1874. As hipóteses centrais propõem que a teoria e os discursos políticos funcionam como elementos meta-históricos. Esta conexão permite à historiografia disponibilizar arcabouços relevantes para o debate político-partidário. Para avaliar o funcionamento destas operações, analiso dois livros: História Geral do Brazil (1854 e 1857), publicado por Francisco Adolfo de Varnhagen, e Memórias do Distrito Diamantino (1861- 1862), publicado por Joaquim Felício dos Santos. Visando compreender como os discursos políticos e historiográficos se retroalimentam, estas obras são comparadas aos debates empreendidos na imprensa. Utilizei dois aportes teóricos. O primeiro, proposto por Norberto Bobbio, consiste em avaliar como as teorias sobre as formas de governo, oriundas da tradição greco-romana, são apropriadas pela historiografia moderna de forma arquetípica. Seguindo esta orientação, avalio como esta apropriação ocorre na historiografia e na imprensa do Império. O segundo aporte teórico foi proposto por John Pocock, que desloca a ênfase do pensamento individual para a análise do discurso político coletivo, avaliando-se a existência de linguagens políticas distintas na sociedade: retóricas, maneiras de falar sobre política, termos básicos e ocasiões típicas em que são empregados, cada qual podendo ter seu vocabulário, regras e precondições específicos. Desta forma, avaliei como as teorias arquetípicas das formas de governo foram tomadas como pré-condição do discurso político e historiográfico. Segundo a herança greco-romana, há três formas de governo, o monárquico, o aristocrático e o democrático, os quais podem se degenerar, respectivamente, em tirania, oligarquia e demagogia. Cada forma de governo possui pontos positivos e negativos e seus processos degenerativos obedecem a razões típicas que configuram linguagens políticas. Assim, argumento que a obra de Varnhagen e a imprensa conservadora adotam o arquétipo monárquico aristocrático de governo, herdado do corporativismo cristão ibérico, isto é, do Antigo Regime. Estes segmentos se situam no que chamo contexto linguístico da Ordem, que tenderá a ressaltar os pontos negativos de uma percepção democrática das relações sociais; paralelamente, salientam as facetas positivas da organização social monárquica aristocrática, como a manutenção da ordem e das hierarquias. Por outro lado, a historiografia de Joaquim Felício, assim como os discursos políticos enunciados nos periódicos do Partido Liberal, do Partido Progressista e do Partido Republicano, inserem-se em outro ambiente discursivo, o qual chamo contexto linguístico republicano democrático. Estes segmentos adotam o arquétipo democrático, sublinhando os pontos negativos de uma sociedade regida por princípios monárquicos e aristocráticos. Estes argumentos se conectam à teoria da modernidade, tornado possível taxar a aristocracia e a monarquia como anacrônicas. Portanto, é possível falar na construção de duas tradições historiográficas no Brasil durante o século XIX: a tradição conservadora e a tradição republicana.