Ninho de saberes : sensibilidades e (in)visibilidades em práticas educacionais indígenas em Alagoas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Leite, Angela Maria Araújo
Orientador(a): Bergamaschi, Maria Aparecida
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Palavras-chave em Espanhol:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/235589
Resumo: Alagoas é um estado com forte presença indígena: são treze povos localizados da Zona da Mata ao Sertão, com uma história marcada por milhares de anos, ainda presente nas vozes ancestrais e nos vestígios arqueológicos em arte e cultura espalhados por todo o seu território. Oficialmente, Alagoas possui dezessete escolas indígenas de educação infantil, ensino fundamental, médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA), além de escolas não oficiais, que têm por objetivo fortalecer a cultura originária. São povos que a história oficial insiste em apagar. No entanto, visibilidades e autoinvisibilidades também são movimentos utilizados como estratégias de resistência e reexistência ao longo do processo colonial, como forma de luta contra as tentativas de destruição. Esta tese visa compreender, a partir da escuta sensível, do dar ouvidos aos diversos saberes, de que forma as práticas educacionais dos povos indígenas, em Alagoas, estão (in)visibilizadas e qual sua relação com o ninho de saberes ancestrais e sua inserção no cotidiano escolar. Assim, priorizamos a escuta a partir de seus protagonistas, nos fazeres e nos dizeres dos próprios povos, em um movimento que destaca a força do que é escolhido ser visibilizado e o respeito ao que se opta invisibilizar. Uma força originária vem marcando presença na universidade, protagonizando novos olhares sobre os saberes indígenas e publicizando ou anunciando uma epistemologia ameríndia. Nessa direção, busquei a colaboração de alunos indígenas participantes do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena (CLIND), bolsistas indígenas do PIBID/UNEAL, estudantes e professores indígenas da educação básica, além de sábios dos diversos povos que participaram e colaboraram nesta tese. Igualmente, a utilização de um corpus filosófico a partir do pensamento indígena, fundamental para acessar os ninhos de saberes. Também foram produzidas mandalas, representadas por um calendário intercultural de três povos indígenas, bem como materiais didáticos, principalmente usados para/no “levante” das línguas originárias. Os procedimentos metodológicos colaborativos constituem as múltiplas vozes da tese, escutadas e transformadas em relatos. Outra forma que adotei para acessar os ninhos de saberes indígenas foi através das imagens produzidas, através de fotografias, desenhos e efeitos sobre as imagens, compreendendo que é uma linguagem que exige um olhar atento sobre a história contada e por cada detalhe capturado pelo olhar e pela escuta. A partir do mundo em que se situa, o olhar mudará a interpretação, pois são imagens que podem visibilizar ou invisibilizar, suscitando compreensões diversas. Conceitos como ser, estar e fagocitação, de Rodolfo Kusch (1978; 2000; 2007) são usados para refletir sobre os dois mundos, indígena e não indígena, e seus encontros, uma vez que o mundo do ser e o mundo do estar se fazem presentes na escola indígena, fagocitada, em processos de interações e entrelaçamentos; o “estar junto” (BERGAMASCHI, 2005) possibilitou vivenciar experiências marcantes, no tempo presencial nas aldeias e suas escolas, e de forma virtual no tempo de distanciamento imposto pela pandemia COVID-19. Intelectuais indígenas como Gersem Baniwa, Bruno Ferreira e Edson Kayapó são vozes fortes nesta tese e possibilitam pensar a educação escolar indígena. Uma escola localizada em território indígena, mas com características de uma escola branca, contrapondo-se a ela, uma escola que se faz indígena com as raízes da América profunda, com os saberes ancestrais, com uma pedagogia sagrada. A escola indígena está impregnada de uma epistemologia branca, entretanto, há uma escola que se faz indígena, que territorializa a partir do estar sendo e adota outras formas de ensinar e aprender, tendo sua cultura originária como parâmetro, que utiliza pedagogias específicas de cada povo e ancestraliza seus pensamentos, potencializando sua pertença e produzindo sementes que permanecerão brotando em solo sagrado. Os ninhos invisibilizados, e que não podem ser acessados, são protegidos dos predadores, e nós, aliados, mesmo que tenhamos uma atitude respeitosa, podemos, mesmo sem intenção, sermos portadores da destruição. Portanto, que esses ninhos permaneçam invisibilizados.