Dimensões psicológicas, clínicas e sociodemográficas associadas à saúde mental de transgênero com disforia de gênero

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Silva, Dhiordan Cardoso da
Orientador(a): Lobato, Maria Inês Rodrigues
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/230612
Resumo: Nos últimos anos, pesquisadores envolvidos no contexto assistencial de indivíduos transgênero buscaram desvendar evidências relacionadas à etiologia, fisiopatologia e a fatores psicossociais nessa população. Já foram objeto de estudo dimensões biopsicossociais, marcadores biológicos, dados epidemiológicos e fatores de vulnerabilidade social relacionados a riscos de saúde. Entretanto, poucas pesquisas dedicaram-se a traçar medidas dimensionais relacionadas aos processos psicológicos e de funcionamento cognitivo em transgênero no contexto de tratamento afirmativos de gênero. O termo transgênero, introduzido na literatura leiga por organizações não governamentais que defendem direitos de pessoas LGBT+, refere-se de forma ampla aos indivíduos que se identificam com gêneros variantes às expectativas sociais do seu sexo de nascimento, e tem atualmente sido utilizado pela literatura especializada. Entre transgênero, há um subgrupo de pessoas que recorre a tratamentos clínicos e cirúrgicos, a fim de minimizar o sofrimento e desconforto provocado por suas características físicas, além de afirmarem-se socialmente à sua identidade de gênero. Na prática clínica/hospitalar, esse sofrimento é abordado como disforia de gênero (DG) (DSM-5 APA 2013). Esta tese se insere na perspectiva clínico-demográfica, na modalidade da saúde pública hospitalar, em um serviço de atenção especializada em realizar procedimentos médicos para afirmação de gênero no Sul do Brasil. O estudo foi composto por mulheres e homens transexuais acima de 18 anos, com diagnóstico de DG que ingressaram nesse programa para acompanhamento clínico prévio à realização de cirurgias de afirmação de gênero (orquiectomia bilateral, penectomia, neovaginoplastia, mastectomia simples bilateral, histerectomia e colpectomia, por exemplo). Os participantes receberam os primeiros atendimentos pela equipe de saúde mental; e, a partir desses, quando indicado, eram encaminhados para seguimento assistencial na modalidade de grupos terapêuticos até a realização dos procedimentos cirúrgicos. Este trabalho visou como objetivo principal ampliar a compreensão sobre as características psicossociais, os sintomas emocionais e fatores de vulnerabilidade psicológica em uma amostra de transexuais com o diagnóstico de DG que ingressam nesse serviço, utilizando análise exploratória e descritiva das dimensões psicológicas relacionadas à estrutura de funcionamento da personalidade. Como objetivos secundários, objetivou (1) realizar levantamento epidemiológico regional de pessoas com o diagnóstico de DG que buscaram atendimento especializado, visando à realização de procedimentos cirúrgicos para transição de gênero (Estudo #1); (2) apurar a presença de estilos de funcionamento psicológico ruminativos, dimensão cognitiva que interage com eventos psicológicos negativos (Estudo #2); (3) avaliar a heterogeneidade de apresentações clínicas em indivíduos com o diagnóstico de DG, a fim de sugerir condutas clínicas individualizadas e preventivas quanto a desfechos negativos em saúde mental (Estudo #3). Com os resultados do Estudo #1, evidenciamos um aumento progressivo na procura por terapia hormonal e cirurgia de afirmação de gênero entre os anos de 2000 e 2018 em um serviço público de saúde especializado. A prevalência geral de indivíduos com DG foi de 9,3 por 100.000 indivíduos (IC 95%: 8,6 a 9,8), sendo 15 mulheres transexuais por 100.000 pessoas (IC 95%: 14 a 16) e 4,1 homens transexuais por 100.000 pessoas (IC 95%: 3,5 a 4,8). O Estudo #2 revelou a presença de pensamento ruminativo nessa população, especialmente nas mulheres transexuais (ruminação tóxica p = 0,014; ruminação reflexiva p = 0,052). A depressão, ansiedade, estresse e ideação suicida estiveram associados ao pensamento ruminativo na amostra total. O Estudo #3 constatou uma diferença no perfil de subgrupos de indivíduos transexuais, sendo que um grupo manifestou maior gravidade clínica quanto à desregulação emocional, sintomas agudos de depressão, ansiedade, estresse e padrão de pensamento ruminativo. Esse mesmo grupo demonstrou maior vulnerabilidade em termos de 9 história psiquiátrica, uso de psicofármacos, HIV positivo, abuso infantil e comportamento suicida. Esta tese fornece contribuições para a compreensão das características populacionais e apresenta os primeiros dados epidemiológicos da DG em uma amostra de indivíduos transexuais brasileiros, que acessam o serviço público de saúde especializado. Também amplia o entendimento e viabiliza condutas preventivas de saúde mental no que concerne o funcionamento desadapativo do pensamento ruminativo nesse grupo.E finalmente, exibe informações sobre a heterogeneidade de subgrupos com DG, sobretudo, diferenças em padrões de histórico psiquiátrico, clínico e de sintomatologias psicológicas. De maneira geral, os resultados desta tese descrevem características psicológicas, clínicas e sociodemográficas de uma amostra de transexuais com DG no âmbito da assistência em saúde especializada, e fornece dados para aprimorar as discussões sobre as individualidades e vulnerabilidades que afetam à saúde mental dessa população.