Elaboração de um instrumento para mensuração da violência obstétrica em uma amostra de mulheres de maternidades de Porto Alegre-RS e associação com sintomas sugestivos de depressão pós-parto

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Paiz, Janini Cristina
Orientador(a): Giugliani, Camila
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/257484
Resumo: A violência obstétrica (VO) é um problema mundial de saúde pública e uma violação aos direitos sexuais e reprodutivos das pessoas que gestam. A prevalência desse fenômeno no Brasil é bastante variável (5% a 98%) em decorrência da heterogeneidade nas formas de medi-la e, muitas vezes, pelo não reconhecimento, pela mulher, de ter sofrido uma violência. Dentre os impactos negativos para as mulheres que sofreram violência obstétrica está a sua maior vulnerabilidade ao desenvolvimento de quadros de estresse pós-traumático e depressão. Os objetivos desta Tese foram: 1) identificar a prevalência de práticas recomendadas e não recomendadas na assistência ao parto, bem como a percepção das mulheres sobre terem sofrido violência obstétrica 2) propor um instrumento para mensurar a VO, construído a partir da Teoria de Resposta ao Item, e 3) avaliar a associação de VO com a presença de sintomas sugestivos de depressão pós-parto. Fizeram parte deste estudo 287 mulheres, selecionadas aleatoriamente, que tiveram parto em maternidades pública e privada de Porto Alegre-RS, e que não apresentaram desfechos negativos relacionados ao parto. As mulheres foram entrevistadas face-a-face, geralmente nos seus domicílios, 30 a 37 dias após o parto. Elas responderam a questões relacionadas a sua situação sociodemográfica, antecedentes obstétricos e de saúde, assistência pré-natal, assistência ao parto (práticas e intervenções aplicadas) e percepção de ter sofrido VO (“você se sentiu desrespeitada, humilhada ou maltratada durante o parto?”). As participantes também preencheram uma escala de screening para depressão pós-parto – escala de depressão pós-parto de Edimburgo (EPDS). As boas práticas na assistência ao parto foram mais frequentes na maternidade pública. A percepção de ter sofrido VO ocorreu para 12,5% das mulheres (14,9% na maternidade pública e 7,5% na maternidade privada). As práticas não recomendadas foram frequentes tanto na maternidade pública como na privada. A partir das práticas não recomendadas, foram construídos dois instrumentos para mensurar a VO: um para todas as mulheres (composto por 09 itens); e outro para aquelas que entraram em trabalho de parto (composto por 11 itens). A prevalência geral de VO por meio da aplicação dos instrumentos foi de 23,7% para todas as mulheres e de 22% para as que entraram em trabalho de parto. Os itens: não ter tido acompanhante durante o parto, não se sentir acolhida e não se sentir segura na maternidade, foram os que apresentaram maior discriminação no instrumento que incluiu todas as mulheres. Quando avaliadas apenas as que entraram em trabalho de parto, não ter tido acompanhante durante o pré-parto e não ter se sentido à vontade para perguntar e participar das decisões sobre seu cuidado também apresentaram elevada discriminação. Foi identificado que mulheres que sofreram VO tiveram maior prevalência de sintomas sugestivos de depressão pós-parto (RP:1,55 IC95%:1,07–2,25), utilizando-se como ponto de corte do EPDS a pontuação ≥8. Condição socioeconômica desfavorável e histórico de problemas de saúde mental pregressos também estiveram associados à presença de sintomas sugestivos de depressão pós-parto. Este estudo apresenta uma proposta inicial de instrumento, que necessita de avaliação mais aprofundada de suas propriedades psicométricas. Os achados preliminares aqui descritos sugerem que a aplicação de um instrumento padronizado para mensurar a VO possibilitará produzir estimativas mais precisas da magnitude do problema, subsidiando assim a proposição de ações para a sua eliminação. Dessa forma, almeja-se que cada vez mais mulheres tenham experiências obstétricas positivas, evitando-se que o parto se torne um gatilho para o desenvolvimento de quadros depressivos.