Memória em desvio : paisagens em vertigem

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Cezar, Brida Emanoele Spohn
Orientador(a): Costa, Luis Artur
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/256332
Resumo: O presente trabalho se debruça sobre a questão da ética da memória afirmando-a desde uma perspectiva trágica e inventiva: não se trata de lutar para reaver o passado, conservando-o inalterado, tampouco de negá-lo ou combatê-lo em sua irreversibilidade e sobrevivência fragmentária, mas de produzir as enzimas necessárias para metabolizá-lo e incorporá-lo aos processos de luto e esquecimento. O esfacelamento das formas e o tremor ininterrupto das paisagens engendram a produção de desvios: o descarrilhamento dos trilhos da ferrovia em São Salvador leva à fabricação de narrativas que servem como locomotivas para os passageiros desembarcados na antiga estação desativada; o desmoronamento das colunas do patrimônio diante do imperativo de preservação da herança colonial em Paranapiacaba convoca o olhar da pesquisadora para os movimentos transgressores do fogo e dos fungos, incansáveis em promover a evaporação e a decomposição da matéria. O barro participa da constituição desta tese na medida em que oferece um território para os paradoxos da memória: a duração acompanhada pela transmutação, a sedimentação inseparável das fraturas, choques e explosões, a obra arregimentada pelos encontros e acasos, pela destruição e extravio implacáveis que se impõem a toda e qualquer imagem-verso-escultura suscetível aos arranjos, desarranjos e rearranjos do tempo. Se a pesquisa caminha sobre trilhos existentes e desaparecidos é para em algum momento adentrar uma montanha e de suas rochas extrair a argila que usará para modelar uma série de rodas com contornos irregulares. Tais círculos querem rolar pelo mundo, fazendo ver através de seus vãos os retratos efêmeros das paisagens: frutos e flores apodrecendo pelo chão, pássaros em voo, formigas devorando cogumelos, luzes de astros fugidios no céu. Há resquícios de cidades e corpos que inscreveram suas marcas na pele e na subjetividade da pesquisadora, responsável por recriá-las através da ficção na tentativa de transmitir um sopro acerca das intensidades sofridas durante o processo de produção do conhecimento. Aqui o pensamento está ora implicado com a decantação das memórias, ora afundado numa poça de lama, ora navegando à deriva nas águas turvas do esquecimento, ora ardendo nas chamas de uma fogueira, ora revirando as cinzas à procura das fagulhas andarilhas. Não existem paradas, apenas despedidas e recomeços.