Migração, trabalho imaterial e subjetividade : (re)invenção dos modos de viver de migrantes e refugiados

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Scherer, Laura Alves
Orientador(a): Grisci, Carmem Ligia Iochins
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/213196
Resumo: Tendo em vista o recrudescimento dos novos fluxos migratórios do sul global para o Brasil na última década, a tendência à hegemonia do trabalho imaterial no capitalismo flexível e globalizado e as limitações de estudos da Administração acerca de migrantes e refugiados no entrelaçamento entre mobilidade internacional e trabalho, tem-se como objetivo geral, nesta tese, cartografar os processos de subjetivação que compõem o trabalho imaterial nos percursos de migrantes e refugiados. Para tanto, se alicerça nos pilares Migração, Trabalho e Subjetividade, os quais confluem na abordagem da Autonomia das Migrações (MEZZADRA, 2012; 2015). Pauta-se fundamentalmente nas produções teóricas sobre migração e refúgio (AGIER, 2016; CASTLES, 2010, SAYAD, 1979), seus dispositivos de proteção e regulação (ACNUR; OIM; BRASIL, 1997; 2017), trabalho imaterial (GORZ, 2005; LAZZARATO; NEGRI, 2001), espaços liso e estriado (DELEUZE; GUATTARI, 2012b), modos de individuação e singularização (GUATTARI; ROLNIK, 1996) e modos de viver em deslocamento (BAUMAN, 1999; 2011). A cartografia, enquanto método, permitiu uma experimentação da pesquisadora como flâneur-cartógrafa na cidade de Porto Alegre/RS e possibilitou a participação-intervenção em um território-rizoma formado por 36 eventos-atividades, cinco informantes-chave e 16 migrantes econômicos e refugiados que desenvolvem trabalhos nas áreas de música, dança, alimentação, moda, idioma e representação político-cultural utilizando referências de seus países de origem, que são Venezuela, Haiti, Síria, Senegal, Costa do Marfim e Nigéria. A partir das observações-participantes e das entrevistas, produziram-se quatro dimensões analíticas: Partir, Chegar, Empreender(-se) e (Re)inventar(-se). A tese defendida é a de que, pela via do trabalho imaterial, desponta a (re)invenção de modos de viver de migrantes e refugiados no país de destino. Tal argumento se sustenta nas frequentes investidas em traçar linhas de fuga de um espaço estriado individuante em direção a um espaço liso singularizante que visibiliza o trabalho imaterial dos migrantes e refugiados, evidenciado, sobretudo, pelo uso de referências dos países de origem e pela situação de migração ou refúgio. Os momentos preponderantes da processualidade dessas passagens e sobreposições podem ser percebidos nas restrições de vida devido às situações-limite instaladas nos países de origem; no empenho para migrar ou refugiar-se sobrelevando o paradoxo das migrações empurradas e autônomas; nos dispositivos legais, burocráticos e políticos que gerenciam as vidas (e possibilidades de trabalho) nas travessias e no país de destino; no direcionamento ao ―mercado de trabalho para migrantes e refugiados‖ vinculado à precarização, à desvalorização social e à aporofobia; nos investimentos em form(a)ções; nos modos de criação de atividades artísticas, técnico-manuais e comunicacionais do trabalho imaterial; no que eles trazem na bagagem; na (co)participação de clientes e no uso de redes sociais da internet no ciclo de produção; na formação de um novo ―mercado de trabalho para migrantes e refugiados‖ vinculado ao afeto e à política; na rede de cooperação afetiva, social, rentabilizadora e emancipatória consubstanciada ao trabalho imaterial e agenciada ao longo do percurso; e, enfim, no devir-migrante e no devir-refugiado como leitura dos modos de viver em deslocamento. Sem abandonar o que são, migrantes e refugiados percebem, nas atividades do trabalho imaterial, outras formas de viver, de se envolver na vida já existente e, ao mesmo tempo, de continuar em deslocamento, provocando outros devires.