A prática de aborto voluntário e as múltiplas escalas de poder e resistência: entre o corpo feminino e o território nacional

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Moraes, Meriene Santos de
Orientador(a): Cláudia Luísa Zeferino Pires
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/156619
Resumo: Essa pesquisa trata das múltiplas relações de poder entre corpo e espaço, em diferentes escalas, envolvidas na prática de interrupção voluntária da gravidez. A criminalização do aborto provocado não impede que milhares de procedimentos clandestinos sejam realizados anualmente no Brasil. A ilegalidade contribui para a insegurança da prática, constituindo um problema de saúde pública porque coloca em risco a vida das mulheres. Contra essa situação, movimentos feministas vêm lutando pelo aborto legal e seguro em nome da saúde, dos direitos sexuais e (não) reprodutivos e da autonomia corporal das mulheres. Nesse contexto, o estudo buscou compreender como as práticas de aborto provocado envolvem múltiplas escalas territoriais de poder e resistência, procurando responder três questões centrais: No que consiste a prática de aborto provocado? Como as relações entre corpo e espaço podem ser evidenciadas a partir de uma perspectiva escalar dessa prática? E, nesse sentido, como o corpo pode constituir uma escala de resistência? Para dar conta da proposta, o referencial teórico-metodológico apoiou-se, sobretudo, nas correntes feministas da Geografia que entendem que o espaço não é neutro do ponto de vista das relações hierárquicas de gênero e em abordagens territoriais multiescalares. ( Continua) As estratégias de investigação incluíram coleta de dados realizada por meio de uma ampla pesquisa bibliográfica e documental, além de nove entrevistas semi-estruturadas, com mulheres brasileiras, entre 24 e 38 anos de idade, que tiveram pelo menos uma experiência de aborto clandestino. O tratamento dos dados consistiu na transcrição das entrevistas, categorização e análise de conteúdo. O estudo mostrou que a prática de aborto provocado consiste em um tema complexo, que envolve aspectos jurídicos, médicos, religiosos, econômicos e emocionais. Além disso, com a restrição do aborto seguro, feito em ambiente hospitalar, a apenas três situações previstas em lei (estupro, risco de vida para a mulher e anencefalia do feto), as mulheres acabam recorrendo às clínicas clandestinas ou ainda ao aborto caseiro, provocado com medicamentos adquiridos no mercado ilegal. Assim, as práticas clandestinas e as lutas pela descriminalização do aborto analisadas ao longo do estudo são exemplos de resistência e subversão às normas estabelecidas, reforçando a afirmação de que o corpo pode constituir espaços de resistência.