As múltiplas percepções sobre o continente africano na política externa dos governos Lula da Silva e Rousseff (2003-2016)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Ribeiro, Camille Amorim Leite
Orientador(a): Silva, André Luiz Reis da
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/209990
Resumo: O objetivo geral desse trabalho é, sob um compromisso interpretativista, evidenciar quais os atores, os aspectos ideacionais e os interesses que permearam a política externa para África nas gestões Lula e Dilma (2003-2016), período apontado na literatura como um período de aprofundamento em termos diferenciados nas relações entre o país e o continente. A África aparece como uma opção hegemônica entre setores estratégicos da sociedade em estreita aproximação com o núcleo decisório, aqueles que compõem a Frente Neodesenvolvimentista, em particular a elite empresarial, os movimentos sociais negros e o partido no poder, o Partido dos Trabalhadores (PT). Essa diversidade de atores expõe também a existência de diversas percepções a respeito do continente africano, como fruto de crenças, valores e interesses de cada um desses grupos. Uma percepção romântica da África é percebida desde a base dos movimentos sociais negros, que entendem o continente a partir de uma idealização das relações raciais e da valorização da cultura com a qual eles se identificam. Ótica essa muito necessária, ao salientar não a África do senso comum, de mazelas sociais e pobreza, mas sim um berço de riquezas culturais e de explicação de raízes identitárias brasileiras. A percepção pragmática do empresariado brasileiro se dá por encontrar no eixo de relacionamento com o continente uma oportunidade de inserção de si e de seus negócios no fenômeno da globalização, mais além, a África aparece para esse grupo como um caminho de lucro e projeção. Essa perspectiva, contudo, carrega consigo para o continente uma série de reminiscências coloniais, de uma elite patriarcal, autoritária e preconceituosa. Por fim, de uma perspectiva da produção legislativa, é feita uma análise das percepções que permeiam a polarização governo-oposição no parlamento brasileiro, em particular quanto à temática África em um cenário onde o Executivo consegue colocar a agenda com relativa força. Nesse caso, é nítido que o debate é levado pela oposição para justificar a política africana como uma opção partidária do PT, partido supostamente interessado em financiar ditaduras de países menos desenvolvidos. Essa argumentação se mostra completamente descolada da realidade interméstica e dos interesses de atores sociais, tendo uma margem de difusão limitada ao palanque do plenário das casas legislativas. Quando se observam as relações com o Itamaraty e as discussões das comissões especializadas, o discurso da oposição aparece desconexo dos interesses sociais, diante da coalizão governista muito bem respaldada pelos movimentos sociais e empresariado. Para alcançar o propósito apontado, uma série de comunicação diplomática publicada até 2018 no Arquivo Central do Itamaraty,serve de material empírico para uma análise qualitativa de conteúdo, triangulada com a revisão sistemática da literatura. Essa análise é feita a partir da teoria construtivista de relações internacionais, dialogando com a literatura contemporânea de Análise de Política Externa que busca maior conexão entre a APE e as teorias de Relações Internacionais.