Tentando subir uns degraus : expansão universitária, mercado de trabalho e esquemas de avaliação dos recém-diplomados em direito

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Pereira, Ricardo Bernardes
Orientador(a): Monsma, Karl Martin
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/201474
Resumo: Esta tese examina as experiências e os esquemas de avaliação de recém-diplomados em Direito, especialmente os das classes populares, sobre as circunstâncias de vida. A partir principalmente de trinta e três entrevistas, mostra como a profunda desigualdade do mercado de trabalho, em associação com a centralidade de valores socioeconômicos, gera insatisfação com as condições de vida atual e cria um desejo de ingressar no setor público. A maioria dos recém-diplomados em Direito trabalha para escritórios pequenos e médios de advocacia, ou por conta própria. Em um mercado privado competitivo – e como o Bacharelado em Direito é o curso de graduação mais popular do Brasil – a maioria dos recém-diplomados consideram insuficientes o salário e os benefícios empregatícios. Esse sentimento de insuficiência é, em larga medida, um resultado do uso das ocupações do setor público como principal referência. Recém-diplomados, tipicamente, recebem em torno de metade do salário de várias ocupações de técnico do setor público. Em comparação com a elite do setor público, recebem em torno de um décimo do salário. Em adição, o setor público oferece estabilidade, melhor cobertura previdenciária e, de acordo com os recém-diplomados em Direito, tarefas mais significativas. Nesse contexto, os entrevistados planejam as suas vidas como um projeto no qual o principal objetivo é, passo a passo, subir a escada social. O primeiro passo é sair do emprego atual e ingressar no setor público e, depois, ingressar nas carreiras de elite do sistema de justiça. A sociedade brasileira tem criado o que Sennett e Cobb (1972) chamaram de máculas de classe. Como o Estado não é capaz de criar “bons empregos” em quantidade suficiente, a probabilidade de recém-diplomados em Direito realizarem os seus objetivos é muito baixa. Entretanto, eles prendem-se com seus planos, uma vez que os seus valores são fortemente baseados na esfera socioeconômica. Religião, família e preocupações políticas não são tão relevantes quanto a esfera socioeconômica para a constituição de propósitos de vida. Os entrevistados organizam as suas vidas de modo que a formação da família e a promoção da mudança social dependam do desempenho no mercado de trabalho. Nesse sentido, o mercado de trabalho tem precedência sobre as outras dimensões de vida. Eles não consideram a si mesmo como ocupando os níveis mais baixos da sociedade, pois julgam que a posição social deles está acima da de seus pais e de outras pessoas sem ensino superior completo. A mácula sofrida assenta-se no sentimento de privação em um grupo que espera participar do grupo de sucesso em uma sociedade onde “os vencedores levam tudo”. Ao analisar as relações entre classe, esquemas e estrutura, esta tesa contribui para uma compreensão mais profunda de como a desigualdade e a classe social afetam a vivência da “boa vida” em um contexto de massificação do ensino superior.