Produções de casamento contemporâneas : educação, cultura e gênero

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Fernandes, Leticia Prezzi
Orientador(a): Santos, Luís Henrique Sacchi dos
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/111895
Resumo: Esta tese trata de como e o que uma revista voltada para noivas ensina sobre casamento. Fundamentada nos aportes dos Estudos de Gênero e Culturais em aproximação com o Pós-Estruturalismo, analisei um conjunto de 14 revistas da Inesquecível Casamento-RS (IC-RS), publicadas entre 2005 e 2012, mapeando as coisas ditas e veiculadas em suas matérias e propagandas. Entendo que a produção desse sujeito-noiva é parte de um currículo de formação de feminilidade na contemporaneidade. Assim, para formar uma noiva é necessário passar por um longo currículo em que se ensina a ser bela (mesmo que não seja assim considerada), sentir-se o centro da cena do casamento, dedicar-se aos outros e à produção de casamento, a entender a importância da data, a contratar bons profissionais, a ver o casamento como ápice da vida a dois, a entender do que é feito um casamento, a personalizar a produção e, ao mesmo tempo, respeitar e seguir tradições. Foi possível constatar que há um grande investimento em significar o casamento de determinadas formas, sobretudo ligadas ao consumo e à espetacularização do eu. Entendo que os ensinamentos da revista são muito persuasivos, uma vez que instituem o casamento como o grande sonho da vida de uma mulher e para o qual ela deve trabalhar arduamente. Esse trabalho envolve contratos com prestadores de serviços, escolher e definir o projeto de casamento e entender a importância deste momento em sua vida. Assim, mais do que um dia romântico e de expressão do amor, este é um grande momento de consumo. A constituição do sujeito-noiva passa também pela construção de um sujeito de consumo que esteja atento ao que é necessário e importante numa produção de casamento. A noiva é produzida, então, como uma consumidora exigente e soberana. Ensina-se, ainda, que a importância do casamento se dá pela sua irrepetibilidade e pela oportunidade de realizar sonhos – descritos como existentes desde a infância. Tamanha importância deve justificar os gastos, a contratação das/os melhores profissionais disponíveis. Ainda mais, o sucesso da festa é descrito como sucesso na vida conjugal – o que aumenta a demanda pela festa inesquecível e perfeita. Instituído como a coroação da relação, a produção de casamento parece significar a dimensão do amor, bem como, coloca-se como ápice da vida conjugal: momento em que todos/as os/as amigos/as e familiares terão suas atenções voltadas para esse casal, desejando o melhor futuro possível. A concentração da produção de casamento como algo feminino é reiterada durante todo o período analisado. Mesmo em áreas em que predominam profissionais homens, as mulheres que adentram estes ramos se colocam como mais qualificadas para atender casamentos, uma vez que possuem o que é denominado como “alma feminina”. Esse “relicário da essência feminina” aparece como um verdadeiro tesouro repleto de sensibilidade, dedicação e amabilidade. A espetacularização do eu parece atingir seu ápice com a celebração de casamento, de modo que é difícil retornar à “vida normal” de simples mulheres. Casar implica sentir-se bela, soberana e responsável pelas próprias decisões. Além disso, coloca-se como um momento especial em que todas as atenções se voltam para a noiva e que todos os seus desejos devem ser atendidos. Acredito que a partir dessas considerações é possível entender a necessidade de estender ao máximo esse momento descrito como de plena felicidade.