Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2020 |
Autor(a) principal: |
Neves, Mayara Pereira |
Orientador(a): |
Fialho, Clarice Bernhardt |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
eng |
Instituição de defesa: |
Não Informado pela instituição
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
http://hdl.handle.net/10183/233065
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Resumo: |
A coexistência de espécies é o cerne da Ecologia, especialmente em ambientes neotropicais com elevada riqueza de espécies ecomorfologicamente similares. Nesse sentindo, o objetivo desse estudo foi verificar como espécies de lambaris - grupo mais diversificado da família Characidae - estão distribuídos em riachos subtropicais, utilizam recursos alimentares e coexistem localmente. Por serem classificadas como onívoras, buscou-se compreender o que elas consomem (análise de conteúdo estomacal) e assimilam (isótopos estáveis), bem como compreender como fatores extrínsecos (sazonalidade, uso e ocupação do solo da bacia hidrográfica) e intrínsecos (morfologia externa e interna) afetam o nicho trófico. As coletas foram realizadas por meio da técnica de pesca elétrica em dez riachos na região de cabeceira das bacias do Baixo Rio Iguaçu e Rio Piquiri, região oeste do Estado do Paraná. Foram coletadas seis espécies pertencentes aos gêneros Astyanax, Bryconamericus e Psalidodon, os quais ocorreram em alopatria ou em co-ocorrência (pares ou trio de espécies por riacho). Primariamente, Psalidodon bifasciatus, que era considerada endêmica da bacia do rio Iguaçu, teve sua distribuição geográfica ampliada por meio de evidências morfológicas e moleculares para a bacia do Rio Piquiri. Ademais, fatores extrínsecos, como sazonalidade e alterações do uso do solo, promoveram alterações na ingestão e assimilação de recursos pelas espécies, refletindo em variações do nicho trófico das mesmas. Além disso, fatores intrínsecos relacionados com as características morfológicas das espécies foram relevantes para partilha de recursos e baixa sobreposição alimentar. Ainda, as espécies exibiram distintos padrões de especialização individual de acordo com a sazonalidade. Especificamente, P. aff. gymnodontus, P. aff. paranae e Bryconamericus ikaa apresentaram maior especialização individual na estação chuvosa (verão), período de maior oportunidade ecológica. Por outro lado, P. bifasciatus exibiu maior especialização individual na estação seca (inverno), independente da presença de outro competidor. Consequentemente, o nicho isotópico das espécies foi afetado por variações sazonais, sendo mais contraído na estação seca (inverno) para P. bifasciatus e P. aff. gymnodontus. Além dos efeitos sazonais, a distribuição das espécies, bem como suas dietas e assimilações de recursos foram alteradas pelos diferentes usos do solo. Nesse aspecto, ao longo de um gradiente de redução de cobertura vegetal, o nicho isotópico de P. bifasciatus exibiu uma relação não linear, sendo mais amplo nos riachos com maior riqueza de espécies e contraído nos riachos com menor diversidade de peixes. Além de alterar a oferta e diversidade de recursos alimentares, a redução da cobertura vegetal no entorno dos riachos afetou indiretamente a interação de espécies. Destaca-se que a maior especialização individual de P. bifasciatus no período de maior escassez de recursos, juntamente com sua capacidade de ampliar seu nicho isotópico na presença de mais competidores em ambientes antropizados, pode ser a chave para compreender sua ampla distribuição e resiliência. Além dos fatores extrínsecos, verificou-se que a características morfológicas externas e internas das espécies também podem promover partição de recursos e diferentes usos do habitat. Dessa forma, espécies filogeneticamente mais próximas apresentaram tendência de divergência morfológica e trófica. Em geral, espécies com corpo mais alongado, dentes pentacuspidados e intestino mais curtos (como B. ikaa e P. aff. paranae), assimilaram predominantemente invertebrados aquáticos. Por outro lado, espécies com corpo mais alto, dentes hepatcuspidados e intestino mais longos (a exemplo P. bifasciatus e P. aff. gymnodontus) assimilaram maiores proporções de invertebrados terrestres. Apesar das consideráveis proporções de material vegetal (folhas e sementes) ingeridos pelas espécies, nenhuma delas assimilou esse recurso. As espécies aqui estudadas não apresentaram características morfológicas a nível macro e microscópico que facilite a digestão e absorção de material vegetal. Assim, a partir do robusto aporte de dados sobre a ecologia trófica das espécies aqui avaliadas, conclui-se que a coexistência de pequenos caracídeos em riachos é facilitada por divergências morfológicas, que favorecem a partilha de recursos e baixa sobreposição, juntamente com as variações sazonais na oferta de recursos. Aponta-se que os impactos antrópicos afetam a interação de espécies, o que pode promover, por consequência, efeitos negativos nas redes tróficas e funcionamento dos ecossistemas. |