Ecomorfologia e uso de recursos por quatro espécies sintópicas de peixes (Characidae) em igarapés amazônicos de terra firme, Amazonas, Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2012
Autor(a) principal: Barros, Gabriel Gazzana
Orientador(a): Deus, Cláudia Pereira de
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA
Programa de Pós-Graduação: Biologia de Água Doce e Pesca Interior - BADPI
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://repositorio.inpa.gov.br/handle/1/11250
http://lattes.cnpq.br/1004190299913204
Resumo: As piabas ou lambaris constituem um grupo de peixes da família Characidae que apresentam características morfológicas generalizadas e superficialmente similares, aparentemente associadas à dieta generalista, baseada no consumo oportunista de ampla variedade de tipos de alimento. Essa similaridade morfológica e funcional, associada à conhecida ocorrência de várias espécies de piabas em um mesmo ambiente aquático, suscitou a hipótese de que haveria elevada sobreposição de nicho ecológico entre as espécies dessa família, especialmente em ambientes onde os recursos alimentares fossem limitados, como é o caso dos igarapés oligotróficos de terra firme da Amazônia Central brasileira. Para testar essa hipótese, foram analisadas as características morfológicas, a dieta e o uso do hábitat de quatro espécies sintópicas de piabas (Iguanodectes geisleri, Bryconops giacopinii, Bryconops inpai e Hyphessobrycon melazonatus) em igarapés na Reserva Florestal Adolpho Ducke, Manaus. Foram avaliados o grau de sobreposição no uso dos recursos tróficos e espaciais, e as características morfológicas e comportamentais que permitem a coexistência dessas quatro espécies nos igarapés. Os peixes foram coletados com rede de arrasto manual em trechos de 50 metros de oito igarapés, previamente selecionados com base em registros anteriores de ocorrência dessas espécies. O uso do espaço nos igarapés, registrado por meio de observações subaquáticas, foi comparado entre as espécies, bem como a frequência de eventos de forrageamento. Foram analisados 18 atributos ecomorfológicos de 22 exemplares de cada espécie, as quais foram comparadas por meio de técnicas de ordenação (PCA). A dieta das espécies foi analisada por meio do cálculo do Índice Alimentar (IAi), e informações sobre volume relativo dos itens alimentares foram utilizadas para avaliar a amplitude e sobreposição de nicho trófico entre elas. As diferentes situações de coocorrência das espécies de piabas nos igarapés (sem coocorrência; coocorrência com uma espécie adicional; ou com duas outras espécies) foram testadas com os dados de largura de nicho dos indivíduos para H. melazonatus e B. giacopinii. Foi detectada nítida segregação no uso horizontal, com H. melazonatus ocupando predominantemente as margens e as demais espécies habitando o canal. As espécies utilizaram predominantemente o terço médio da coluna d’água, mas I. geisleri exibiu maior proporção de uso do terço inferior. A análise das características ecomorfológicas demonstrou diferenças interespecíficas significativas, especialmente na forma do corpo, tamanho e orientação da boca, apesar da alta sobreposição na dieta das espécies. No entanto, quando analisada a composição da dieta em coocorrência com uma ou duas espécies sintópicas, H. melazonatus e B. giacopinii exibiram estreitamento de nicho trófico. Em suma, apesar das piabas serem filogeneticamente relacionadas e consideradas morfologicamente semelhantes, a análise integrada de informações sobre uso do hábitat, comportamento, dieta e características ecomorfológicas detectou diferenças significativas entre essas espécies, que podem atuar como mediadoras da coexistência nos igarapés amazônicos de terra firme, por meio da partição dos recursos disponíveis.