"Somos aqueles por quem esperamos" : (re)existência dos povos originários em diferentes materialidades

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Silva, Ariceneide Oliveira da
Orientador(a): Tettamanzy, Ana Lúcia Liberato
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/267393
Resumo: Este trabalho inscreve-se na teoria da Análise de Discurso materialista e trata da voz dos povos originários, já que esses sujeitos foram silenciados durante quase cinco séculos desde o processo de colonização em 1500, mas, no final do século XX e início do século XXI, encontram fissuras na história e irrompem do silêncio em voz que se ergue. Essa voz se materializa em um processo de leitura e escrita indígena. O que diz e como diz essa voz sobre "permanecer indígena"? Ou melhor, como significa ser "índio" para os povos originários? Esses questionamentos se desdobram a cada leitura da obra O caráter Educativo do Movimento indígena brasileiro (1970- 1990), do indígena Daniel Munduruku. Desse modo, este trabalho busca compreender os efeitos de sentido das palavras "índio", leitura, escrita e território, assim como, do enunciado: "DEMARCAÇÃO, JÁ!". Tendo como resultado os enunciados: "Posso ser quem você é, sem deixar de ser o que/quem sou", "Somos aqueles por quem esperamos". A pesquisa foi um grande desafio, porque se dá no impasse de pensar em uma forma de poder relacionar povos de culturas diferentes e formação social própria, com a formação social do Estado, no fio da contradição. Portanto, para desenvolver as análises busco compreender as diferenças entre a formação social indígena e a capitalista, para identificar os lugares de enunciação desses sujeitos indígenas determinados na estrutura social brasileira pela lei, uma vez que o dizer é histórico, e, nesse caso, a formação social do Estado diverge, e muito, da formação social indígena. Esse estudo se dá com base no desenvolvido por Althusser (1978; 1979; Pêcheux (2014a; 2014b), Courtine (2014; 2016), Orlandi (2008; 2007), Mariani (2004; 2016), De Nardi e Balzan (2010), Rodríguez-Alcalá (2004), Hooks (2019), Spivak (2010), Munduruku (2012) e outros. Destaco que não foi uma tarefa fácil, porque os povos originários estão em diferentes etapas do processo de contato com a formação social capitalista; e por ser, por um lado, uma análise inscrita na Análise de Discurso materialista, e por outro, tratar da voz indígena, voz de sujeitos que não se identificam com formação ideológica do capitalismo, tornou-se um desafio. Contudo, nisto reside a importância do trabalho: compreender a voz desses povos que após 523 anos de colonização estão resistindo, ressignificando e (re)existindo em suas culturas, em sua formação social. Desse modo, interpretar os efeitos de sentido de "permanecer indígena" só se tornou possível a partir da subjetivação desses povos na/pela leitura e escrita, e pela relação de contradição que constitui a voz indígena (os discursos). Nesse gesto de análise, a concepção de voz concentra-se na perspectiva de Hooks (2019), de "erguer a voz", de poder falar, de ter direito à escrita, modo pelo qual estes povos lutam em movimentos políticos. Estes são sujeitos que resistiram às políticas: exterminacionista, assimilacionista e integracionista, e que (re)existem, afirmando a sua identidade de "permanecer indígena" por meio da voz que ressoa em uma nova conjuntura; essa voz é, portanto, um acontecimento, que atualiza a voz daqueles por quem os ancestrais já esperavam que pudessem falar.