A construção do significado de tekoha pelos kaiowá do Mato Grosso do Sul

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Crepalde, Adilson
Orientador(a): Finger, Ingrid
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/115758
Resumo: Este trabalho objetiva discutir aspectos culturais do processo de significação, analisando a linguagem de conversas com indígenas Kaiowá do Mato Grosso do Sul, Brasil. O ponto central da tese é discutir as diferenças culturais do processo de significação. Para desenvolver o trabalho, foram coletadas falas de indígenas identificados como representantes da cultura kaiowá, ou seja, indígenas reconhecidos por seus pares por possuírem conhecimentos tradicionais e habilidades de liderança. As falas foram coletadas em dez diferentes lugares e tematizaram o tekoha [teko’ha] - espaço genericamente definido como o lugar onde vivem os Kaiowá segundo seu modo de ser. Dessas conversas, delimitou-se um corpus que foi analisado com base em perspectivas teóricas desenvolvidas no âmbito da Linguística Cognitiva pensadas e aplicadas por Lakoff (1987), Lakoff; Johnson (2003), Fauconnier (1994, 2002), Kövecses (2005) e outros. A interpretação do corpus permitiu demonstrar traços comuns a todos os entrevistados, evidenciando características da cultura kaiowá. As análises das conversas permitiram refletir sobre o jeito kaiowá de conceptualizar e simbolizar elaborado na experiência desse grupo étnico pelo mundo, configurando-se como uma maneira específica de construir entendimentos da realidade e de elaborar e utilizar uma linguagem para evocar e reatualizar esses entendimentos. Dessa maneira, este trabalho corrobora a tese da Cognição Corporificada, ou seja, de que a elaboração de significado institui-se no contato do corpo com o meio. Esse processo é determinado por forças biológicas, mas é elaborado nas experiências dos grupos sociais com seu meio ambiente. Os diferentes grupos sociais vivenciam experiências diferentes em ambientes diferentes, o que suscita diferentes culturas, isto é, diferentes maneiras de produzir a vida, de perceber, conceptualizar e representar as experiências sócio-históricas. Os resultados do trabalho demonstraram a importância de se compreender os aspectos cognitivos, linguísticos, sociais e históricos das culturas bem como as premissas básicas que as alicerçam. Levar em consideração todos esses aspectos possibilitou demonstrar a complexidade e o engendramento do significado de tekoha e o entrelaçamento desses aspectos no processo de construção e reatualização desse significado. A análise dos dados possibilitou ainda refletir sobre a cultura kaiowá como um ninho de pertença, uma possível maneira de estabelecer uma verdade, um conjunto de premissas e valores que garante e justifica a existência desses indígenas. Por meio desse tipo de análise, foi possível demonstrar como o significado de tekoha, fora do frame cultural kaiowá, pode ser compreendido de maneira muito superficial, o que reforça a tese da importância do contexto cultural para a compreensão de categorias e conceitos. A realização do trabalho permitiu concluir que o método de coleta de dados, com destaque para a etnografia semiestruturada, a perspectiva teórica e a abordagem interdisciplinar foram fundamentais para atingir os objetivos estabelecidos. A perspectiva teórica da Linguística Cognitiva mostrou-se um importante aporte teórico para discutir a significação e compreender as questões indígenas, podendo auxiliar, inclusive, em discussões sobre diálogo intercultural. Por fim, as reflexões realizadas neste trabalho podem servir de base para se pensar projetos de pesquisa, de ensino e métodos de ensino a serem aplicados em escolas indígenas diferenciadas. Pode ainda, contribuir com discussões que pautem as relações interétnicas, sobretudo as relações entre não índios e os Kaiowá.