Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2016 |
Autor(a) principal: |
Serpa, Monise Gomes |
Orientador(a): |
Felipe, Jane |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
|
Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Não Informado pela instituição
|
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
|
Departamento: |
Não Informado pela instituição
|
País: |
Não Informado pela instituição
|
Palavras-chave em Português: |
|
Palavras-chave em Inglês: |
|
Link de acesso: |
http://hdl.handle.net/10183/153015
|
Resumo: |
O presente estudo se propôs a discutir e tensionar o conceito de exploração sexual a partir do referencial teórico dos Estudos de Gênero, dos Estudos da Sexualidade e dos Estudos Culturais. A pesquisa buscou problematizar de que forma as redes de atendimento que deveriam se constituir como redes de proteção à infância e adolescência compreendem esse fenômeno e de que modo crianças e adolescentes do gênero feminino em situação de exploração sexual vivenciam tal realidade. Para tanto, foram produzidos materiais de pesquisa a partir de três fontes. O material 1 partiu de uma pesquisa documental realizada durante um período de 3 meses em uma delegacia especializada em violência contra crianças e adolescentes, sendo selecionados três inquéritos envolvendo casos de exploração sexual. O material 2 consistiu de entrevistas realizadas com seis participantes profissionais atuantes tanto nas organizações de enfrentamento como nos serviços de atendimento, utilizando-se um roteiro semiestruturado. O material 3 partiu do acompanhamento a três meninas/jovens, com idades entre 11 e 14 anos, identificadas em situação de exploração sexual e atendidas nos serviços de acolhimento na modalidade casa-lar e abrigo. Foram realizados encontros com grupos focais e entrevistas individuais seguindo-se um roteiro semiestruturado. Os resultados apontaram que, nos processos de erotização precoce, analisados aqui como processos de pedofilização e que dão sustentação à cultura do estupro, a/o violência/abuso sexual se fez presente na vida das meninas/jovens interlocutoras desta pesquisa. O forte investimento erótico no corpo jovem feminino, em suas pedagogias de gênero e de sexualidade vivenciadas nas relações afetivas familiares, perpassou desde as figuras masculinas mais próximas, como padrasto, padrinho, tio, avô e irmão, além das próprias mães, que, de alguma forma, reconheciam (ou atribuíam) esse poder em suas filhas pelo simples fato de serem jovens. Por parte dos homens, esse corpo jovem exerce um fascínio, despertado a partir de uma erotização das desigualdades, seja pela questão geracional ou ainda pelos atravessamentos de classe social, reafirmando, assim, uma masculinidade heteronormativa e perpetrando uma sexualidade vista como “desenfreada” e facilmente cedida aos “apelos” femininos juvenis. Tal perspectiva é legitimada pela figura materna, que, nas negociações de suas filhas com esses homens, colocam os corpos jovens de suas meninas como disponíveis, para também terem acesso ao poder econômico por eles exercido. Diante de toda a estimulação sexual impressa nessas meninas/jovens, a exploração sexual acaba por ser uma das possibilidades de expressão e exercício da sexualidade, sendo uma estratégia utilizada por elas para serem reconhecidas e apreciadas enquanto mulheres. O trabalho das instituições de proteção torna-se complexo e dificultoso, principalmente por chegarem até as meninas tardiamente, quando elas já encontraram suas formas próprias de lidar com a violência sexual sofrida. Ao se darem conta dessa dificuldade, as meninas constroem estratégias para burlar as regras cotidianas desse controle institucional, emergindo como insubordinas, chegando mesmo a fugir dos abrigos ou casas-lares. Diante do quadro de insubordinação, elas passam a ser alvo de controle e normatização por parte do estado por meio da administração de um forte tratamento medicamentoso. Muito mais do que combater ou erradicar a exploração sexual – entendendo aqui que essa dimensão não pode ser abandonada – para que essa “proteção” possa cumprir os seus propósitos, as questões envolvidas nesses processos de erotização precoce necessitam ser reconhecidas, assim como os seus efeitos na vida dessas meninas/jovens. |