Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2020 |
Autor(a) principal: |
Barros, Betina Warmling |
Orientador(a): |
Pimenta, Melissa de Mattos |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Dissertação
|
Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Não Informado pela instituição
|
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
|
Departamento: |
Não Informado pela instituição
|
País: |
Não Informado pela instituição
|
Palavras-chave em Português: |
|
Palavras-chave em Inglês: |
|
Link de acesso: |
http://hdl.handle.net/10183/206422
|
Resumo: |
A pesquisa analisa os significados da violência letal extrema produzida nos conflitos entre facções na cidade de Porto Alegre e Região Metropolitana, entre os anos de 2016 e 2018. O estudo quer entender por que novas formas de matar, como esquartejamentos, decapitações, alvejamentos, atentados e chacinas foram operacionalizados durante o período de disputas entre dois grupos do tráfico de drogas do estado do RS, os Bala na Cara e os Antibalas. Para isso, articula-se a teoria de Valencia a respeito do capitalismo gore e a teoria da sociabilidade violenta de Machado da Silva. Para a análise, recorreu-se a três fontes principais de pesquisa: notícias dos jornais locais a respeito da chamada guerra no tráfico, grupos focais realizados com dez adolescentes internados em unidade de cumprimento de medida socioeducativa e entrevistas narrativas com quatro participantes desses grupos focais. Enquanto a análise documental possibilitou compreender as dinâmicas de atuação dos embolamentos e as mudanças no uso da violência durante esse período, o contato direto com os envolvidos no tráfico de drogas permitiu acessar os significados subjetivos do uso dessa violência. Dois conjuntos de resultados foram produzidos a partir do corpus da pesquisa. Sob o ponto de vista da estrutura das facções, a violência extrema se mostrou uma estratégia de produção de capital econômico, operada de acordo com as configurações estruturais do mercado e sujeita a transformações sempre que essas condições mudam. Assim, após o período da guerra, os embolamentos que utilizaram a violência extrema se consolidaram no cenário do mercado ilícito de drogas, passando a gerir uma galeria no Presídio Central, no caso dos V7, e expandindo seu território de domínio para o interior do estado, no caso dos Bala na Cara. Sob o ponto de vista dos sujeitos envolvidos, por outro lado, a violência extrema adquiriu significados muito além dos ganhos econômicos. Para os jovens, a guerra representou o momento de consolidação do seu envolvimento com os grupos do tráfico, no qual a violência foi o instrumento utilizado para vingar a morte de seus amigos e familiares, proteger a sua vila das incursões de grupos contrários e afirmar a sua relevância no interior do embolamento. Esse ciclo de ação e reação violenta ocorreu por meio do fortalecimento de um sistema sociocultural que condiciona um certo script de práticas às masculinidades marginalizadas, regidas por um código de honra, em que a proteção e a homenagem são capitais essenciais para alcançar o prestígio pessoal. A violência extrema, portanto, atuou como um fator essencial na instrumentalização dos envolvidos como agentes incumbidos de colocar em prática o que, para os embolamentos, consistia em uma estratégia de expansão e fortalecimento. A cada ato de violência extrema realizado durante o período da guerra, os jovens, ao mesmo tempo que aprofundavam seu envolvimento, auxiliavam na construção de uma estrutura ainda mais consolidada, de modo que se instalou uma configuração social que só veio a ser desconstituída quando as condições estruturais mudaram e a violência extrema deixou de ser um instrumento essencial na estratégia de atuação dos embolamentos no mercado da droga do estado. |