Justiça reprodutiva em Casa de Santo : aproximando vivências de terreiro à práxis do conceito

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Moreira, Ariane Fernanda dos Reis
Orientador(a): Machado, Paula Sandrine
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/256261
Resumo: O conceito de Justiça Reprodutiva (JR) trata do acesso a condições econômicas, sociais, culturais e ambientais que influenciam nas vivências sexuais e reprodutivas de mulheres de grupos racialmente oprimidos. Num contexto de sociedade que tem seus pilares alicerçados no racismo e sexismo colonizador, as mesmas muitas vezes emergem das práticas ativistas de mulheres para garantir esse acesso. Dessa maneira, tenho como objetivo principal nessa dissertação me acercar das práticas de uma Comunidade Tradicional de Terreiro, a partir do enquadramento da Justiça Reprodutiva, uma vez que as compreendo como políticas de vida que são mobilizadas pela população negra em suas (re)existências contra coloniais, tendo como contexto a cidade de Porto Alegre/RS. A hipótese levantada é de que práticas comunitárias das comunidades tradicionais de terreiro, junto aos conhecimentos ancestrais presentes na memória, mantém vivos valores organizativos civilizatórios invariantes, e tais espaços se mostram ambientes privilegiados nos quais o próprio conceito de JR pode se beneficiar para sua práxis. Como objetivos específicos, destaco: a) apresentar e compreender o conceito de Justiça Reprodutiva; em seguida b) expor as práticas da Comunidade Tradicional de Terreiro como ferramentas de (re)existência na manutenção de vidas negras; e finalmente c) aproximar o conceito de Justiça Reprodutiva das formas de existir dessa comunidade, contribuindo para o desenvolvimento do conceito com uma perspectiva descolonial. Afim de atingir esses objetivos, utilizei como operadores éticos-teóricos-metodológicos, a noção de corpo documento, que propõe o cruzamento, no e pelo corpo, de memórias, e vivências de pessoas que vivem a partir dos sistema de crenças herdados pela matriz civilizatória negro-africana. Também as performances de oralitura e os modos de pesquisa desde dentro, a primeira refere se a memória vivida através das performances do corpo em ritual, mantendo uma identidade étnica, enquanto a segunda refere-se às pesquisas realizadas por pessoas que compreendem os significantes do cotidiano da comunidade tradicional de terreiro por estarem inseridas no cotidiano dessas organizações. Foi utilizada a metodologia da Gira de saberes, tendo a contribuição de um grupo de sete mulheres iniciadas na comunidade, além dos seres não vivos que compartilham o cotidiano da casa. A gira de saberes consistiu na prática de dialogar com integrantes da comunidade tradicional de terreiro, além de participar das vivências rituais e formativas alicerçadas nas performances das oralituras ali encontradas. Para apresentação das análises, bem como exposição dessas performances, utilizo histórias ficcionais, ao moldes das escrevivências de Conceição Evaristo, fabulando a partir das estórias apresentadas pelo grupo de mulheres e por minhas memórias. Sendo assim, como parte das políticas de vida, identifiquei que algumas se dão tanto em âmbito espiritual quanto material, sendo obviamente inseparáveis. Dentre elas, encontram-se a sacralização animal para òrìṣà, oferendas, limpezas espirituais, bênçãos, entre outras práticas que possuem todo um sentido real/mítico – e que se materializam quando os animais sacrificados se tornam alimentos para aquele coletivo; quando o próprio espaço do terreiro acolhe crianças que ficariam em situação de rua, entre outras demandas relacionadas à manutenção da vida.