Ao derramar os santos óleos : propriedade, família e compadrio de escravos em Porto Alegre (1810-1835)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2013
Autor(a) principal: Elias, Roger
Orientador(a): Osório, Helen
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Palavras-chave em Espanhol:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/132373
Resumo: O presente trabalho de dissertação é um exercício de demografia histórica que examina a população, a configuração dos fogos e a família escrava em Porto Alegre entre 1810 e 1835. Utilizamos fontes primárias de caráter seriado: o rol de confessados de 1814 e os registros de batismo de escravos de 1810 a 1835, ambas alocadas no Arquivo Histórico da Cúria Metropolitana de Porto Alegre (AHCMPA). No contexto das primeiras décadas do século XIX, marcado pelas dinâmicas sociais e econômicas de uma zona de fronteira, a Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul, examinamos a população de Porto Alegre considerando a estrutura da propriedade escrava e a configuração dos fogos. Encontramos um grande percentual de população escrava frente à população total. Esses escravos estavam dispersos em fogos chefiados por homens casados, homens não-casados e mulheres, totalizando quase 2/3 dos fogos de Porto Alegre, o que demonstrava o forte vínculo da capital sulina com a escravidão, no período estudado. Ao procurarmos a família escrava, quer sacramentada quer consensual, investigamos as cores e as origens dos pais e das mães das crianças escravas recém-nascidas batizadas (designadas como crioulos escravos batizados). Constatamos a preferência por uniões endogâmicas, principalmente quanto à cor, mas também quanto à origem. Procuramos relacionar esses parâmetros ao mercado de escravos e pudemos constatar que havia relação entre as variações nos batismos dos cativos e as oscilações do tráfico de escravos. Para isso, também contribuiu a análise das origens, das idades e da razão de masculinidade dos batizados africanos. Finalmente, ao estudarmos as famílias escravas, nos detivemos às possibilidades de acesso ao matrimônio católico por parte dos escravos e às relações de compadrio, em cruzamento com duas variáveis: o tamanho relativo de plantel e a freqüência ao compadrio. Identificamos que a grande maioria dos batizados escravos de Porto Alegre era formada por crianças crioulas naturais, sendo a legitimidade um atributo de menos de 10% dos rebentos batizados. Esses recém-nascidos teriam grandes chances de ter escravos de outros plantéis como padrinhos e madrinhas de seus batizados. Entretanto, esse padrão poderia variar de diferentes formas: o tamanho da escravaria e a freqüência com que um escravo era batizado influenciavam sua legitimidade e, também, a condição jurídica, a cor, a origem e até mesmo a pertinência ou não de seu padrinho e de sua madrinha ao mesmo plantel. Essas condições estavam relacionadas às escolhas dos escravos por firmar relações sociais horizontais ou verticais através do compadrio e também ao grau de influência dos senhores nessas relações. No caso dos africanos, o leque de escolhas parece ter sido menor e a possibilidade do compadrio ser usado como estratégia de administração da mão-de-obra escrava no cativeiro, por parte dos senhores, foi provavelmente maior.