Sistema modulador descendente da dor, neuroplasticidade e fatores associados em mulheres na pré e pós-menopausa

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Ferreira, Fernanda Vargas
Orientador(a): Wender, Maria Celeste Osório
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/188876
Resumo: Introdução: A artralgia crônica tem sido uma queixa comum em mulheres de meia-idade. Acredita-se que um dos mecanismos centrais seja a disfunção do sistema modulador descendente da dor (SMDD). O fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) modula as vias nociceptivas e interage com o SMDD. A proteína S100β está envolvida na neurogênese e neuroplasticidade. A terapia de reposição de estrogênio (TRE) é especialmente recomendada para alívio de sintomas vasomotores, porém, estudos sugerem efeitos benéficos para artralgia. O desenvolvimento deste estudo originou dois artigos, os quais constituem esta tese. Estudo I: No primeiro estudo analisamos os efeitos da estrogenioterapia sobre a artralgia crônica em mulheres na pós-menopausa. Métodos: Esta revisão sistemática objetivou avaliar os efeitos da estrogenioterapia em comparação a placebo sobre artralgia em mulheres pós-menopáusicas. Foi realizada seguindo as instruções PRISMA e foram criadas estratégias de busca gerais e adaptáveis às bases de dados eletrônicas na área da saúde, Embase, Medline (via Pubmed), Scielo e Lilacs-Bireme. Foram selecionados apenas ensaios clínicos randomizados publicados entre 2001 e 2016 nos idiomas espanhol, inglês e português com mulheres pós-menopáusicas categorizadas em grupo intervenção (estrogenioterapia) ou placebo, com medidas quantitativas e comparativas, com relação à linha de base e após um ano de tratamento. A seleção dos estudos, coleta e análise de dados foi realizada de forma pareada e independente por dois revisores e por um terceiro revisor em casos de discordância entre janeiro e março de 2017. Os desfechos primários foram frequência e/ou intensidade da artralgia. Utilizamos a ferramenta Cochrane para avaliação do risco de viés em ensaios clínicos randomizados. Resultados: Três estudos (n=29,477) avaliaram os efeitos do estrogênio conjugado equino (ECC - 0,625mg) em comparação ao placebo. Após um ano de tratamento, a estrogenioterapia diminuiu significativamente a frequência e a intensidade da artralgia. Dois estudos apresentaram moderado risco de viés devido à randomização e alocação. Conclusões: A revisão sistemática mostrou resultados favoráveis ao uso de estrogenioterapia para artralgia, entretanto, recomendamos futuros estudos com avaliação multidimensional da dor, além de escores de dor. Estudo II: No segundo estudo comparamos a função do SMDD através da mudança na Escala Numérica da dor (END, 0-10) durante a CPM-task (Tarefa da Modulação Condicionada da Dor) em mulheres pré ou pós-menopáusicas com ou sem artralgia crônica e sua associação com atividade física, sintomas climatéricos, sintomas de ansiedade e de depressão, catastrofização da dor, escala funcional da dor, qualidade do sono e neuroplasticidade. Métodos: Estudo transversal e exploratório com mulheres sem doenças de 40 a 55 anos que foram recrutadas através de divulgação nas mídias eletrônica e impressa e realizado de fevereiro de 2015 a julho de 2017 no Centro de Pesquisa Clínica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (CPC/HCPA), RS/Brasil. Após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), os instrumentos utilizados foram: Executive summary of the Stages of Reproductive Aging Workshop + 10 (STRAW +10, para a classificação das mulheres em relação ao estadiamento menopausal), questionário semiestruturado sobre aspectos de saúde, hábitos de vida e parâmetros socioeconômicos Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ - versão curta, para a mensuração de atividade física da última semana), Questionário de Avaliação da Menopausa (MRS, para quantificar a severidade dos sintomas da menopausa), Inventários de Depressão e de Ansiedade de Beck (BDI-II e BAI, para identificar a intensidade de sintomas depressivos e de ansiedade), Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh (PSQI, para medir a qualidade e padrões de sono), Perfil de Dor Crônica (B-PCP: S, para avaliar as características dos indivíduos com dor), Escala de Pensamento Catastrófico sobre a dor (BP-PCS para analisar os pensamentos catastróficos frente à dor crônica), Mini-International Neuropsychiatric Interview (MINI que identifica transtornos mentais), Questionário Nórdico de Sintomas Musculoesqueléticos (NMQ, para identificar distúrbios osteomusculares) e Questionário Algofuncional de Lequesne para Osteoartrite de Joelhos e Quadris (para avaliar o grau de funcionalidade de indivíduos com osteoartrite de quadris e joelhos). Após responder aos questionários e posterior coleta sanguínea (estradiol – E2 e folículo estimulante – FSH, BDNF, S100β), elas foram submetidas à avaliação da dor. O Teste de Quantificação Sensitiva (QST) foi utilizado para medir o limiar perceptivo térmico (HTT), o limiar de dor térmica (HPT) e o limiar de tolerância à dor térmica (HPTo), bem como avaliar a mudança na Escala Numérica de Dor (NPS0-10) durante uma tarefa de modulação da dor condicionada (CPM-task). A algometria foi utilizada para determinar o limiar de pressão de dor (PPT). Resultados: Noventa e sete mulheres (n=49, pré-menopausa; n=48, pós-menopausa) foram incluídas no estudo. A mediana [IC 95%] da CPM foi -1,32[-1,64–-0,32] para as pré-menopáusicas e para as pós-menopáusicas -1,00[-1,66–-0,53] (p=0,334). Um modelo linear misto com efeitos fixos e com Ajuste de Bonferroni para múltiplas comparações mostrou significativas associações entre CPM-task e BDNF (p=0,002), BP-PCS (p=0,006) e MRS (p=0,004). Análise de regressão revelou associações inversas da CPM-task com BDNF (B=-0,022, p=0,003) e MRS (B=-0,099, p=0,001), porém, direta com BP-PCS (B=0,045, p=0,012). O nível de significância foi fixado em 5% para todas as análises e os dados foram analisados no SPSS, versão 18.0 [SPSS, Chicago, IL]. Conclusões: O estadiamento menopausal e a artralgia crônica não afetaram a função do SMDD, possivelmente, pelas características das mulheres (fisicamente ativas, com boa qualidade do sono e anos de educação) e devido às mulheres pré-menopáusicas reportarem sintomas climatéricos e maior uso de analgésicos, sugerindo efeitos de flutuação hormonal e maior intensidade de dor, respectivamente. Além disso, os níveis séricos de BDNF foram correlacionados inversamente com a CPM-task, o que corrobora o conceito de que o BDNF regula a neurotransmissão e a plasticidade sináptica.