Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2021 |
Autor(a) principal: |
Silva, Ivamauro Ailton de Sousa |
Orientador(a): |
Suertegaray, Dirce Maria Antunes |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Não Informado pela instituição
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Palavras-chave em Inglês: |
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Link de acesso: |
http://hdl.handle.net/10183/231332
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Resumo: |
As paisagens vermelhas do Piauí revelam importantes debates conceituais, evidenciados pela comunidade científica. A dimensão do objeto de estudo possibilitou definir distintas discussões, para apresentar um deciframento morfogenético, para estabelecer conexões entre os componentes da paisagem e para elucidar a influência do clima, em particular, do regime torrencial, na gênese dos compartimentos erodidos. No âmbito teórico, discute-se os conceitos usados na explicação dos processos erosivos, na região de Gilbués, tais como desertificação, degradação ambiental, degradação do solo e, mais recentemente, arenização. As conceituações e as características das áreas de ocorrência dos processos demonstram elementos de diferenciação, em relação à área em estudo, e tais representações foram importantes, para questionar conceitos, permitindo renunciá-los, no contexto técnico-científico. Para a construção desta tese, empregaram-se os caminhos e procedimentos metodológicos: a) levantamento e definição do referencial teórico-metodológico; b) delimitação da área de estudo; c) elaboração e análise de mapas temáticos; d) definição dos locais de pesquisa e de trabalhos de campo, para a obtenção de depoimentos orais, de análise empírica da paisagem e de registros fotográficos; e) caracterização da estrutura superficial da paisagem e da dinâmica socioespacial da área; f) aquisição de dados climáticos e análise da variabilidade interanual das chuvas, determinação do índice de aridez, representação do comportamento pluvial, com ênfase nos episódios torrenciais, e elaboração de gráficos; e i) articulação com outros campos do conhecimento, para o deciframento morfogenético das feições erosivas. Os resultados confirmaram litologias friáveis às condições pluviométricas; solos com formações superficiais recentes e de classificação textural franco, franco siltoso e franco arenoso; as configurações do relevo têm diversidade e revelam distintos processos evolutivos da paisagem; a cobertura vegetal se constitui pelo domínio do Cerrado, com variações fitofisionômicas; e, no contexto hidrográfico, a área de estudo possui abundância de águas superficiais e subsuperficiais. A dinâmica socioespacial legitima trajetórias históricas e transformações na constituição do território, com marcas de ocupação por grupos indígenas e, posteriormente, por "colonizadores" da Bahia. Historicamente, avaliaram-se as terras da região para práticas agrícolas, mas estas se mostraram desfavoráveis a tais atividades, sendo adequadas à criação de gado. Apesar da quantidade reduzida de rebanhos, que se tornou uma atividade econômica representativa, junto com a agricultura de subsistência. Em determinados períodos, a mineração de diamantes dinamizou a economia local e promoveu modificações e impactos na paisagem, mas em áreas pontuais. O contexto histórico revela aspectos típicos da região: baixa ocupação populacional e paisagens insólitas. As diferentes tipologias climáticas, articuladas ao regime pluvial, confirmam a predominância do clima tropical subúmido, com variações na pluviosidade e com frequência de chuvas torrenciais. Os resultados da análise climática registram coeficientes de variabilidade interanual de precipitações inferiores a 25% e a determinação do índice de aridez indica valores entre 0,78 e 1,25, o que caracteriza a área de estudo como região de clima tropical subúmido úmido. As discussões climatológicas contribuíram para desmistificar o emprego do conceito de desertificação, em decorrência dos parâmetros: tipologia climática, coeficiente de variação interanual, índices de aridez e processos morfogenéticos, que derivam da abundância de água na superfície, intensificados em períodos de aumento pluvial ou de torrencialidades. Os conceitos da História (memórias) e da Linguagem (toponímias) demonstram importantes significados, destacando interfaces entre sociedade e natureza. As narrativas históricas, escritas entre 1840 e 1970, as denominações regionais (malhadas, toá, grotas e grotões), as memórias, os traços cotidianos, relatados pela população local, e as reproduções bucólicas em obras literárias idealizam arquétipos, que comprovam a ocorrência remota de feições erodidas na paisagem regional, pressupondo a origem natural dos fenômenos. Os aportes da climatologia, integrados à revisão teórica e a conceitos da História, permitiram a confirmação da gênese natural e a revelação dos mitos da desertificação, bem como a refutação da origem antropogênica. A caracterização das áreas como espaços de ocorrência de arenização implicaria a formação de areais e a predominância de solos arenosos (Neossolo Quartzarênico Órtico), feições e características ausentes na área pesquisada. O comparativo, as analogias e a diferenciação entre as áreas delinearam divergências e conduziu à renúncia do conceito de arenização. Após desmitificar e renunciar aos conceitos de desertificação e de arenização, a pesquisa se centra nas discussões sobre badlands, formas erodidas e dissecadas pelas dinâmicas climática e hídrica. Esse desdobramento possibilitou emergir nova problemática, envolvendo a construção de um conceito e a determinação do processo de origem das paisagens erodidas. Para o deciframento conceitual, utilizaram-se as toponímias regionais e o conhecimento da população, elementos essenciais no desenvolvimento de elucidações e de novos enredos conceituais, mesmo que embrionários, na explicação do processo ocorrido no Piauí. O conceito elaborado se fundamenta na toponímia Toá (barro vermelho), que caracteriza as coberturas de detritos pelíticos. As interpretações morfogenéticas sobre a origem norteiam discussões sobre o processo evolutivo da paisagem, demonstrando que as feições erosivas se conectam às variações climáticas, à fragilidade geológica, a regimes torrenciais, à denudação, a ocorrência de pedimentos, ao escoamento superficial, à intensificação dos fluxos hídricos e a dinâmicas erosivo-deposicionais. O processo apresenta dinâmicas naturais, abre janelas temporais, para representar feições em movimento e transformações na paisagem. A torrencialidade provoca a remoção de litologias friáveis e intensifica os processos de escoamento superficial e a mobilização e a coalescência de detritos, decorrentes da erosão, do transporte e da deposição. Concluiu-se que as paisagens erodidas decorrem de dinâmicas naturais, em particular, das provocadas pelas condições climáticas e litológicas, resultantes de histórias evolutivas e de dinâmicas pretéritas, pressuposto para a desmistificação da desertificação. As vozes do passado fortaleceram o sentimento identitário da região e promoveram a representação social das paisagens vermelhas, constituindo interfaces e reciprocidades. O deciframento instituído nesta tese reforça a importância de estabelecer conexões, inquietações e desdobramentos, permitindo revelar a importância e as dimensões da ciência geográfica nas decifrações das dinâmicas da natureza e dos processos de gênese das paisagens vermelhas do Piauí. |