Percepção e produção do contraste da duração de vogais adjacentes a consoantes plosivas finais do inglês (L2) por brasileiros : o papel do treinamento fonético de alta variabilidade (não) associado à instrução explícita de pronúncia a partir de análises de produto e de processo à luz da teoria dos sistemas dinâmicos complexos (TSDC)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Gauer, Luana Tiburi Dani
Orientador(a): Alves, Ubiratã Kickhöfel
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/278844
Resumo: Esta Tese de Doutorado apresenta uma discussão, à luz da Teoria dos Sistemas Dinâmicos Complexos, acerca do papel exercido pelo treinamento perceptual de alta variabilidade (associado ou não à explicitação dos itens-alvo), a partir de análises de produto e de processo (Lowie, 2017; Lowie; Verspoor, 2015, 2019; Yu; Lowie, 2019), sobre a percepção e a produção da distinção funcional entre pares mínimos do inglês encerrados por plosivas bilabiais, alveolares e velares – /p/ vs. /b/, /t/ vs. /d/, /k/ vs. /g/ – por aprendizes brasileiros de inglês no contexto da Educação Básica (Ensino Médio). No que diz respeito à oposição de pares de palavras do inglês terminadas em consoantes plosivas surdas e sonoras, a duração da vogal que antecede a consoante final corresponde à pista acústica primordial para a distinção desses pares mínimos, uma vez que, na fala nativa, há um certo grau de dessonorização, que causa inconsistência no vozeamento da consoante final. A vibração das pregas vocais na closura da plosiva, com isso, perde o status de pista prioritária na distinção do contraste surdo-sonoro final dessas consoantes (Ladefoged; Johnson, 2011). Assim sendo, considerando-se o processo de desenvolvimento de uma L2, frisa-se o caráter substancial da investigação sobre o papel da duração vocálica como pista acústica que possa distinguir os membros de pares como “cap” vs. “cab”, “bat” vs. “bad” ou “back” vs. “bag”. Porquanto o status prioritário de pista acústica da duração vocálica deva ser aprendido pelo aprendiz brasileiro de inglês, faz-se mister verificar as possíveis contribuições do treinamento perceptual na ponderação de pistas acústicas (cf. Lehet; Holt, 2017). O papel promissor do treinamento perceptual é orientar aprendizes para os aspectos fonéticos que são observados pelos falantes nativos da língua-alvo; ao se observar o papel do treinamento frente à ponderação de pistas acústicas, mostra-se possível avaliar se os ajustes rápidos nos pesos perceptuais têm consequências concomitantes na produção da fala. O presente trabalho conta com uma metodologia híbrida e é desenvolvido a partir de dois estudos – estudo de produto (transversal) e estudo de processo (longitudinal) –, indo ao encontro da integração dinâmica de métodos de pesquisa à luz da TSDC (Hiver; Al-Hoorie, 2020). No estudo de produto analisaram-se os índices de percepção e de produção de pares mínimos do inglês encerrados por plosivas bilabiais, alveolares e velares, obtidos nas etapas de pré-teste, pós-teste imediato e pós-teste postergado (10 semanas após o término da intervenção), com a finalidade de discutir o papel do treinamento perceptual (associado ou não à explicitação dos itens-alvo). Foram recrutadas três turmas do terceiro ano do Ensino Médio, as quais constituíram, por designação randômica, os Grupos Experimentais 1 e 2 (GE1 e GE2, respectivamente), e o Grupo de Controle (GC), os quais foram submetidos a diferentes condições experimentais (treinamento (GE1), treinamento adicionado de explicitação (GE2) e sem intervenção (GC)). O treinamento perceptual consistiu em cinco sessões de treinamento, uma por dia, ao longo de cinco dias seguidos. A tarefa perceptual de identificação com feedback imediato e cumulativo utilizada para o treinamento contou com 192 tokens dispostos de forma aleatorizada (4 séries (uma por cada locutor) de 48 tokens oriundos de 24 pares mínimos de logatomas no padrão silábico CVC terminados em consoantes plosivas (totalizando 48 types)). Para as sessões de instrução explícita às quais os participantes do GE 2 seriam submetidos antes do início de cada sessão de treinamento, elaborou-se um vídeo de aproximadamente três minutos com a finalidade de demonstrar diferenças na duração vocálica em pares mínimos terminados em consoantes plosivas surdas e sonoras no inglês e a dessonorização de plosivas em final de palavra. No que diz respeito à tarefa de produção, realizada nos três momentos temporais, os aprendizes foram submetidos a uma tarefa de nomeação de imagens (adaptada de Carlet (2017), relativas a 24 itens lexicais em inglês – 12 pares mínimos terminados em /p/, /b/, /t/, /d/, /k/ e /g/. No que se refere à percepção, também realizada nos três momentos temporais, cada grupo de participantes foi submetido, simultaneamente, à realização de uma tarefa perceptual de identificação, sem feedback imediato, de pares mínimos no padrão silábico CVC encerrados por consoantes plosivas (par surdo e sonoro), presentes em frases-veículo, lidas e gravadas por locutores falantes nativos de inglês (homens e mulheres). A tarefa perceptual de identificação continha três partes: (i) composta de 48 tokens (2 séries de 24 types formados por 12 pares mínimos de logatomas gravados por dois locutores (um homem e uma mulher) – destinada à verificação de efeitos na percepção a curto e a longo prazo; (ii) constituída de 24 tokens (2 séries de 12 types formados por 6 pares mínimos de logatomas familiares) – já utilizados na tarefa perceptual de identificação (parte 1) e no treinamento perceptual – gravados por 2 novos locutores (1 homem e 1 mulher) – destinada à generalização a novos locutores; (iii) formada por 24 tokens (2 séries de 12 types oriundos de 6 pares mínimos de itens lexicais do inglês gravados por dois locutores (1 homem e 1 mulher), cujas gravações de logatomas foram utilizadas na tarefa perceptual de identificação (parte 1)) – destinada à generalização a novos itens lexicais. A tarefa de nomeação de imagens e a primeira parte da tarefa perceptual de identificação foram aplicadas nas etapas de pré-teste, pós-teste imediato e pós-teste postergado. A segunda e a terceira parte da tarefa perceptual de identificação, por sua vez, foram aplicadas uma única vez, na etapa de pós-teste imediato. A fim de se verificar se o treinamento perceptual associado (ou não) à instrução explícita de pronúncia exerceu efeitos na percepção (imediatos e de retenção), assim como de generalização à percepção (a novos locutores, a novos itens lexicais) e à produção, os dados de percepção e de produção dos participantes desse estudo foram analisados estaticamente (descritiva e inferencialmente). As análises estatísticas inferenciais foram realizadas por meio de modelos de regressão logística (dados de percepção) e linear (dados de produção) múltipla de efeitos mistos. Como resultados do estudo de produto, no que se refere aos dados de percepção, o treinamento fonético de alta variabilidade associado (ou não) à instrução explícita exerceu efeitos imediatos e a longo prazo sobre a percepção da duração de vogais que antecedem as categorias de consoantes plosivas finais surdas e sonoras. Verifica-se que os conhecimentos adquiridos através do treinamento perceptual conjugado (ou não) à instrução explícita exerceram efeitos de generalização a novos locutores (aos quais os participantes da pesquisa não foram expostos durante o treinamento ou nas etapas de pré-teste ou de pós-testes) e a novos itens lexicais (apenas entre os participantes submetidos ao treinamento perceptual associado à instrução explícita). Com relação aos dados de generalização à produção, verifica-se que o treinamento perceptual associado à instrução explícita exerceu influências de mais curto prazo, de caráter mais imediato, diferentemente do que foi visto entre os participantes submetidos ao treinamento perceptual desassociado da instrução, cujas possíveis influências tiveram um caráter mais progressivo. Menciona-se, ainda, que é nos dados dos participantes submetidos ao treinamento perceptual conjugado à instrução explícita que a distinção entre categorias se mostrou bem mais clara, a partir da duração vocálica: a duração da vogal aumentou antes das plosivas sonoras e diminuiu – ou pelo menos se manteve pouco instável – antes das plosivas surdas. No estudo de processo, a partir da verificação descritiva dos dados de produção longitudinais, acompanhou-se a trajetória desenvolvimental de produção da L2 (inglês), ao longo de três meses, por meio de 12 pontos de coletas de caráter semanal (cf. Yu; Lowie, 2019; Albuquerque, 2019), referente à produção dos pares mínimos que são foco deste trabalho (em uma tarefa de nomeação de imagens – adaptada de Carlet (2017)), de seis aprendizes em nível individual, os quais foram submetidos a diferentes condições experimentais (treinamento (GE1), treinamento adicionado de explicitação (GE2) e sem intervenção (GC)). Cada condição experimental contou com a participação de dois participantes. Foram realizados dois tipos de análises estatísticas: a descritiva – realizada por meio de gráficos de desenvolvimento ao longo de tempo e de gráficos de mínimos e máximos (Van Dijk; Verspoor; Lowie, 2011) – e a inferencial, por meio de Análises de Monte Carlo (Van Dijk; Verspoor; Lowie, 2011), as quais permitem localizar picos significativos de variabilidade nos dados. Essas verificações foram realizadas no aplicativo de criação de planilhas eletrônicas Microsoft Excel, com o auxílio do add-in Pop Tools (Hood, 2009), no caso das Simulações de Monte Carlo, e teve por base o manual de análises dinâmicas de Verspoor, De Bot e Lowie (2011). Nos dados dos participantes submetidos ao treinamento perceptual associado à instrução explícita, evidencia-se mais visivelmente o esforço de dissimilar as categorias surda-sonora a partir da pista prioritária de duração vocálica, uma vez que os participantes promoveram um distanciamento acústico entre duas categorias fonológicas, o qual é maior do que entre os participantes submetidos ao treinamento perceptual desassociado da instrução explícita. Nas análises conduzidas nesse estudo, foi possível observar que, em termos de produção de L2, o treinamento perceptual conjugado à prática de instrução explícita parece ter exercido influência de caráter mais imediato do que a de um trabalho de treinamento perceptual desassociado da instrução, o qual parece ter exercido efeitos de mais longo prazo, de caráter paulatino. Os resultados integrados dos dois estudos, que conjugam as performances do “grupo” e do “indivíduo”, no que diz respeito aos dados de produção, permitem que se verifique que o treinamento perceptual associado à instrução explícita exerceu influências de caráter mais imediato, ao contrário do que foi verificado entre os participantes submetidos ao treinamento perceptual desassociado da instrução –, cujas possíveis influências são mais progressivas. Menciona-se, ainda, que é nos dados dos participantes submetidos ao treinamento perceptual conjugado à instrução explícita que a distinção entre categorias se mostra bem mais clara, a partir da duração vocálica: a duração da vogal aumenta antes das plosivas sonoras e diminui – ou pelo menos se mantêm pouco instável – antes das plosivas surdas. Ressalta-se que o ato de promover um distanciamento acústico entre duas categorias fonológicas a partir da pista prioritária de duração vocálica pode ser visualizado tanto no estudo de produto quanto no estudo de processo, o que denota a propriedade de fractalidade dos Sistemas Dinâmicos Complexos.