Um nacionalismo transnacional? : estudo de caso da Nova Resistência, organização neofascista brasileira

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Valdez, Ramiro Soares
Orientador(a): Silva, Marcelo Kunrath
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/278744
Resumo: O presente trabalho tematiza a emergência e constituição de uma organização neofascista brasileira, a Nova Resistência (NR), em perspectiva transnacional, com foco na adequação discursiva da doutrina ideológica da Quarta Teoria Política (QTP), criada pelo russo Aleksandr Dugin, ao contexto brasileiro, tarefa que é agenciada pela organização. Como referencial teórico, são mobilizadas principalmente a teoria dos enquadramentos aplicada à ação coletiva, e a literatura sociológica sobre redes transnacionais de ativistas. O objetivo principal é entender como a organização mobiliza uma ideologia de circulação transnacional no agenciamento de seu "próprio" nacionalismo. O problema da pesquisa, que trata das maneiras como uma organização nacionalista alinha suas molduras interpretativas a doutrinas ideológicas que circulam transnacionalmente, é posto na forma da seguinte questão: Qual o lugar da escala transnacional na produção discursiva dos atores políticos nacionalistas de extrema direita contemporâneos? Como eles mobilizam (e possivelmente ressignificam) enquadramentos interpretativos de circulação internacional? Metodologicamente, foi reunida uma base de dados composta por 149 documentos, que, submetidos a critérios de seleção, resultaram em 54 URLs destacadas do website da NR, além do arquivo da obra A Quarta Teoria Política (Dugin, 2012a), em formato PDF, para análise e codificação, com auxílio do software CAQDAS NVivo. Também foi realizada uma entrevista semi-estruturada com Letícia Oliveira, especialista pioneira na investigação da atuação do duginismo no Brasil, com ênfase na NR, além de diversas outras fontes jornalísticas a respeito do tema. A pesquisa da dimensão associativa transnacional da extrema direita nacionalista pode contribuir para a agenda de pesquisas sobre a nova direita brasileira que, na sociologia, precisa superar um certo nacionalismo metodológico, isto é, um foco demasiado grande na escala nacional. Além disso, este estudo contribui para maior entendimento da heterogeneidade e da conflitualidade interna a esta nova direita radical, campo de emergência recente na política brasileira. O foco de análise se deu em torno da comparação entre as dimensões diagnóstica, prognóstica e convocatória, por um lado, na doutrina ideológica da QTP, e, por outro, no material produzido pela NR. Os resultados apontam para: 1. a inexistência de divergências entre os enquadramentos interpretativos produzidos pela NR e a doutrina da QTP; 2. o agenciamento de um processo de "alinhamento de molduras" pela NR com ênfase no subtipo de "ligação de molduras" associado ao subtipo "amplificação de molduras" em sua acoplagem da QTP à realidade nacional; 3. a variação encontrada diz respeito às maneiras como a NR produz uma leitura quarto teórica da realidade brasileira, conectando os pressupostos desta doutrina de gênese russa ao contexto sócio histórico-cultural nacional. Além destes resultados, nas considerações finais é feita uma caracterização das particularidades do neofascismo praticado pela NR. Também são apontados alguns dos limites do trabalho, que dizem respeito a uma discussão a ser aprofundada sobre a dimensão sociotécnica do fenômeno de emergência e proliferação do que identifiquei como um ecossistema digital transnacional duginista, tendo em vista a primazia dada às novas tecnologias de informação e comunicação mobilizadas, e à articulação em escala supranacional, pelos atores duginistas em seu repertório tático.