Um retrato da depressão : investigação sobre a construção do diagnóstico em práticas de promoção da saúde na atenção básica

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Boeff, Muriel Closs
Orientador(a): Camargo, Tatiana Souza de
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/189984
Resumo: A prevalência do diagnóstico de depressão, especialmente em mulheres, vem crescendo tanto em âmbito nacional quanto mundial. Segundo dados da OMS (2002), até 2020 a depressão será uma das doenças mais incapacitantes do mundo. Nesse sentido, esta pesquisa teve como objetivo investigar a construção do diagnóstico de depressão em 17 mulheres assim autodeclaradas, maiores de 18 anos, pacientes de uma Equipe de Estratégia de Saúde da Família da cidade de Solanum, localizada na região da Encosta da Serra do Rio Grande do Sul. Para tanto, buscou-se examinar as possíveis relações entre o marcador social gênero, a organização do trabalho, a posição social ocupada pela mulher e a cultura teuto-brasileira local, entendendo que estes aspectos poderiam manter relação com os modos de viver, sentir e interpretar o diagnóstico de depressão, tanto pelas mulheres quanto pelos profissionais da Atenção Básica da comunidade. Como metodologia, este trabalho delineou-se como um Estudo de Caso que utilizou ferramentas de cunho etnográfico, entre elas a entrevista semiestruturada, a observação participante e o Diário de Campo. Através da análise combinada de todos os materiais coletados, as seguintes categorias foram delimitadas e discutidas: O corpo como depósito de sintomas; O discurso científico, a legitimação da doença e o investimento em tecnologias medicamentosas; O valor do trabalho e o controle dos corpos; Experiências singulares para além do DSM; Estar mulher em Solanum: corpo, cuidado, trabalho e família; Morar no campo: entre o imaginário e o “real”; Cargas e enfrentamentos de quem cuida: profissionais da saúde e concepções sobre saúde mental, mulheres e cuidado. Dessa maneira, entendendo as ações de Promoção da Saúde realizadas pelos profissionais da Atenção Básica como práticas educativas que ensinam aos pacientes atendidos conhecimentos, valores e modos de ser e estar no mundo, identificou-se que a construção do diagnóstico de depressão em Solanum mantinha ligação com os jogos de poder instituídos desde o estabelecimento da relação entre profissionais e pacientes, perpassando também a própria organização da gestão de saúde da comunidade, aspectos que acabavam por exercer influência sobre a percepção que estas mulheres desenvolviam sobre suas condições de saúde mental. A partir disso, muitas delas compreendiam o uso de medicações como o processo mais viável de cura, além de buscarem a legitimação de sua doença através do diagnóstico médico. Da mesma forma, também foi possível observar que estas mulheres vivenciavam experiências de sofrimento e preconceito que ocorriam em ambientes familiares, relacionamentos conjugais e, em grande parte dos casos, nas próprias condições de trabalho à que estavam submetidas. Observou-se então, a importância de considerar às condições de vida das mulheres tanto no momento da realização de um atendimento por um profissional capacitado até mesmo na formulação de políticas de saúde mental, a fim de que o diagnóstico e os próprios dados epidemiológicos não sejam responsáveis por invisibilizar, antes de tudo, violências e opressões de gênero à que tantas mulheres podem estar expostas.