Resumo: |
Vivemos tempos extremos que apresentam grandes desafios socioam bientais, em um cenário no qual a humanidade se depara com a iminência de um colapso dos sistemas de sustentação da vida. Constatamos a condição de extrema iniquidade e concentração de riqueza, consequência da implementação de um paradigma dominante, essencialmente extrativista, apoiado no colonialismo, na escravidão e no genocídio. Neste contexto, o valor da arquitetura está em xeque, uma vez que é, ao mesmo, tempo protagonista na promoção do desgaste e explo ração socioambiental, e potencialmente agente de reversão do quadro da crise atual através de vislumbres de um pluriverso de paradigmas outros e múltiplos, interconectados. A ideia do antropoceno como período em que a humanidade foi submetida a paradigma estabelecido e implementado por um grupo minoritário que ocupava a região da Europa Ocidental, a partir da revolução científica entre os séculos XVI e XVII, reduz a realidade a um modelo racional, simplificador e excludente que considera a natureza fonte inesgotável de recursos para livre apropriação. A força desta revolução e da expansão ultramarina, levou a atividade humana a atingir uma escala e amplitude de ação capaz de gerar transformações na biosfera como nunca antes desde a sua gênese. Com a hipótese de que a arquitetura se tornou predominantemente instrumento servil desse processo de dominação e destrui ção em massa, submissa à lógica do capitaloceno, este trabalho sustenta que é necessária uma ruptura radical com esse paradigma, reconectando este campo do conhecimento e ação com seu sentido legítimo e ancestral. O objetivo desta tese é propor um olhar para a condição contemporânea e questionar o paradigma dominante vigente e sua crise compreendendo que, se a arquitetura é protagonista nos impactos que constituem a trajetória do colapso mundial, ela pode também ser protagonista na construção de alternativas sistêmi cas. A discussão está estruturada em três partes, cada uma com arcos temporais e escalas distintas. Na primeira parte são apresentadas reflexões e questionamen tos com o campo da arquitetura no centro do debate a partir de uma perspectiva socioambiental, adotando o marco temporal de início do antropoceno o ano de 1610; na segunda parte, discutimos de que maneira a construção civil, através dos processos de industrialização e inovação tecnológica submeteu a arquitetura e o desenho da cidade a seus interesses a partir da revolução industrial; na terceira parte, a questão é reconhecer os vislumbres de alternativas que têm emergido em práticas colaborativas nas periferias globais. O caminho percorrido auxiliou no processo de identificar e visibilizar demandas urgentes. Finalmente evidencia a necessidade de adotarmos novos ca minhos e paradigmas para a arquitetura através de alternativas pluriversas para possibilidades de reversão, recuperação, regeneração e restauração socioambien tal da trajetória de colapso do mundo. |
---|