Multilinguismo e preconceito na fronteira Porã: um estudo sobre atitudes e crenças linguísticas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Fiamengui, Ana Helena Rufo [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/151587
Resumo: A realidade escolar fronteiriça, que se mostra muitas vezes conflituosa e, sobretudo, múltipla e problemática, motivou a realização deste trabalho, que teve como intuito discutir e analisar as atitudes e as crenças dos alunos em relação às línguas oficiais na fronteira Porã, especificamente entre as cidades de Ponta Porã, sul de Mato Grosso do Sul, Brasil, e Pedro Juan Caballero, capital do Departamento de Amambay, Paraguai. Para a análise de atitudes, foi empregado um teste baseado principalmente na matched guise technique (técnica dos falsos pares), de Lambert et al. (1960), que envolve gravações de falantes bilíngues, depois avaliadas por respondentes em relação a um número relevante de atributos. Já o teste de crenças, construído a partir da técnica empregada por Barbosa (2009), tomou por base afirmações diversas sobre as línguas fronteiriças gravadas em visitas anteriores, em relação às quais os alunos deveriam exprimir concordância ou discordância. Além desses dois instrumentos metodológicos, que foram posteriormente reduzidos a dados estatísticos, adotamos ainda instrumentos etnográficos para a coleta de dados, mediante observação participante e gravação de entrevistas. Os testes foram aplicados a dez escolas, sendo cinco de cada país, de que fazem parte 324 adolescentes com idade igual ou superior a 14 anos (fase da percepção social para LABOV, 1974 [1964]). O processamento estatístico dos dados do teste de atitudes apontou uma distribuição dos treze atributos em quatro dimensões: caráter, competência, relacionamento e aparência. Os atributos da dimensão da competência mostram uma tendência clara de atribuição de prestígio ao português em detrimento das línguas do Paraguai, mesmo para os adolescentes que estudam nesse país. Já a análise das outras dimensões permite entrever, em algum grau, uma tendência favorável à atribuição de prestígio encoberto ao guarani. O espanhol recebeu, com frequência, notas intermediárias entre os extremos de valorização e estigma, atribuídos ao português e ao guarani, respectivamente. A análise dos dados submetidos à variável “sexo” demonstrou sutilmente haver maior grau de sensibilidade linguística das mulheres, mas, quando correlacionados à variável “idade”, os dados não forneceram um padrão claro de diferenciação, já que adolescentes entre 14 e 16 anos apresentam reações bastante similares. Quando submetidos à variável “grau de bilinguismo”, os dados evidenciam que esse grupo de fatores atua diferentemente em cada uma das quatro dimensões, mostrando-se os respondentes mais sensíveis ao parâmetro da aparência, numa relação diretamente proporcional entre grau de bilinguismo e valores das notas atribuídas. Também o fator “nível socioeconômico” não mostrou diferenciação significativa a ponto de ser possível depreender um padrão único de avaliação, ainda que haja a tendência de adolescentes de nível mais alto atribuírem notas ligeiramente mais baixas. O teste de crenças, em geral, acompanhou os dados do teste de atitudes em termos da atribuição de maior grau de relevância e utilidade ao português e ao espanhol, embora o guarani também seja considerado relevante e funcional na área de fronteira. As entrevistas, por sua vez, subsidiam e explicam os achados dos outros dois testes. Os dados obtidos forneceram um panorama detalhado das atitudes e crenças de adolescentes que estudam nas escolas de cada um dos lados da fronteira e apontaram para a necessidade de se promover um debate sério da questão do multilinguismo, não apenas no contexto de sala de aula, mas também no da comunidade como um todo.