A inserção da temática ambiental no currículo do ensino médio do Estado de São Paulo

• Ano de defesa: 2018
• Autor(a) principal: Domeneghi, Liliane Samira Becari Nogueira
• Tipo de documento: Dissertação
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
• Palavras-chave em Português: Temática ambiental; Educação ambiental; Currículo; Ensino médio; Environmental theme; Environmental education; Curriculum; High school
• Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/182056

Esta pesquisa buscou analisar a incorporação de aspectos relacionados à temática ambiental (temas ambientais, procedimentos didáticos) no currículo oficial do ensino médio da rede estadual de São Paulo, bem como nos respectivos materiais de apoio. Para isso, essa investigação utilizou como corpus documental os quatro fascículos do Currículo do Estado de São Paulo e seus materiais de apoio, denominados “caderno do aluno” e “caderno do professor”, de todas as disciplinas e áreas do conhecimento, totalizando cento e quarenta cadernos. Caracterizou-se, portanto, enquanto uma investigação de natureza qualitativa do tipo “pesquisa documental”. O corpus documental foi submetido à uma técnica de análise de textos denominada “Análise de Conteúdo”, proposta por Laurence Bardin. Inicialmente, foi realizada a “leitura flutuante” de todos os materiais que compuseram o corpus desta pesquisa, resultando em uma primeira constatação: a ausência de elementos da temática ambiental nos materiais da disciplina de Educação Física. Posteriormente, os elementos da temática ambiental identificados nos demais materiais permitiram a construção de “unidades de registro”, que foram agrupadas em duas categorias de análise: “Uso e apropriação de recursos naturais e seus impactos” e “Medidas para o enfrentamento da crise ambiental”. Em seguida, as “Situações de Aprendizagem” que contemplavam elementos da temática ambiental foram analisadas, no caderno do professor, para mapeamento dos procedimentos didáticos sugeridos. Os resultados revelaram a predominância de elementos da temática ambiental nos materiais da área de “Ciências da Natureza e suas tecnologias”, embora tenham sido identificados também em número significativo na área de “Ciências Humanas e suas tecnologias”. Na categoria “Uso e apropriação de recursos naturais e seus impactos”, que concentrou a maior parte das “unidades de registro” construídas, percebeu-se a predominância do caráter dicotômico da relação sociedade-natureza, reforçando uma visão utilitarista do ambiente. Sobre as “Medidas para o enfrentamento da crise ambiental”, os materiais analisados revelaram um foco na adoção de atitudes mais conscientes em relação às atividades que geram algum impacto para o ambiente, sem aprofundar reflexões acerca do consumo, modo de vida e sobre o modo de produção. Além disso, os procedimentos didáticos mapeados revelaram a predominância de leitura de texto seguida de questionário, com predomínio de questões “reprodutivas” sobre questões “produtivas”. Nesse sentido, a inserção da temática ambiental no currículo do ensino médio do estado de São Paulo e em seus materiais de apoio evidencia incoerências e contradições com o estabelecido nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental e com o referencial teórico adotado nesta pesquisa, revelando limitado potencial transformador da relação estabelecida entre sociedade-natureza, uma vez que não problematiza o consumo, o modo de vida e de produção na sociedade capitalista. Além disso, elementos como a ênfase no caráter danoso para o ambiente proveniente das ações antrópicas, a adoção de atitudes individuais de redução de impactos ambientais sem problematizar o consumo e o modo de produção, a predominância de procedimentos didáticos que pouco colaboram para o debate, a discussão e reflexão acerca da problemática ambiental, atrelados à dicotomia entre ensino e aprendizagem e a ênfase no desenvolvimento de habilidades e competências expressos no currículo revelam uma possível influência da visão neoliberal de educação na elaboração destes documentos, reforçando uma perspectiva acrítica deste currículo, que pode acabar por silenciar algumas vozes, experiências, histórias e trajetórias pelas quais os alunos são constituídos e dão sentido ao mundo que os cerca.