Raduan Nassar e a lavoura dos dizeres: entre Provérbios e Cantares

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2010
Autor(a) principal: Mota, Bruno Curcino [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/103625
Resumo: Este trabalho é uma visada interpretativa sobre o romance Lavoura arcaica, do escritor paulista Raduan Nassar, uma leitura que parte de conceitos centrais desenvolvidos pelo chamado Círculo de Bakhtin, como dialogismo, gêneros discursivos, cronotopo e polifonia, para pensar a tessitura verbal do romance em toda a sua complexidade. Nossa hipótese é que vigas/vozes mestras da arquitetônica do romance ressoam dialogicamente a poesia do Cântico dos Cânticos – jardim metafórico que exala erotismo no coração das Escrituras – e a sintaxe enrijecida da lei (em)pregada nos Provérbios. Os discursos bíblicos, das tradições mediterrâneas, que foram paulatinamente edulcorados, submetidos aos posicionamentos ideológicos dos mais velhos, transformados em tábua de lei, tornam-se, em Lavoura arcaica, palco de luta. A apropriação que os personagens tentam fazer dessas palavras “para seu uso próprio” faz surgir entre eles relações dialógicas. A palavra passa a ter dupla orientação – uma direcionada para o objeto do discurso (um tema, uma ordem, um mandamento), outra para o discurso do outro; os tensos diálogos entre Pedro e André e deste com seu pai bem o confirmam. Reafirmamos que queremos investigar em profundidade como esse tensionamento se faz projetar em todas as camadas do discurso (lexical, sintática, sonora, imagética), visto que em Lavoura arcaica os discursos interpenetram-se, chocam-se, fundemse, polemizam entre si, criando por vezes a imagem de um remoinho, que é a vertigem mesma do sujeito-narrador (André) – seu purgatório em vida. A progressão de nossa análise revelou que a própria literatura sapiencial bíblica sofre uma espécie de crise na voz dos redatores de livros como Jó e Qohélet, colocando em xeque a teoria da retribuição preconizada em Provérbios e nos discursos de Iohána, o que permitiu uma reflexão, que fecha a análise, sobre a forma...