Resumo: |
O trabalho investiga como a condição autônoma dos indivíduos, na sociedade capitalista contemporânea, promove um sentido de liberdade essencialmente utilitarista e privado, que gera a tendência da redução das emoções à forma de mercadoria e de bens de consumo. Pretende-se analisar como a psicologia e os livros de autoajuda voltados para o indivíduo contemporâneo passaram a ter uma importância fundamental na sociedade capitalista atual e como colaboram com o processo de transformação dos afetos e dos sentimentos em produtos notáveis do capitalismo na era global. Em outras palavras, deseja-se discutir, por meio da análise do papel da literatura de autoajuda, como a sociedade capitalista tem transformado paixões e psique ao promover um amplo processo de mercantilização, alienação e reificação das relações amorosas. Nesse sentido, o presente trabalho observa qual subjetividade feminina a literatura de autoajuda voltada para relacionamentos amorosos determina. Metodologicamente, a investigação se deu pela compreensão dos conceitos trabalhados na sociologia das emoções de Eva Illouz, aliados ao emprego da teoria crítica da primeira geração. A teoria crítica foi aplicada tanto na análise de como as “potências formativas” constroem indivíduos, valores e processos sociais que promovem a estabilidade e a reprodução das estruturas sociais das quais necessitam quanto na análise da fragilidade da vida privada, como produto das instituições integrantes do “mercado afetivo”. A pesquisa ainda analisou três livros de autoajuda, best-sellers no Brasil, voltados para a temática de relacionamentos amorosos – Mulheres inteligentes, relações saudáveis; Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor? e Casamento blindado –, com o objetivo de apreender o padrão comportamental feminino que esta potência formativa peculiar, a literatura de autoajuda, procura estabelecer. Por sua vez, ela reitera o esforço de seus autores na manutenção do status quo machista e sexista. |
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