Estudo in vitro de infecção das membranas corioamnióticas com espécies bacterianas de difícil cultivo detectadas no trato genital inferior: modulação da resposta imune na interface materno-fetal

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Nicolau, Nathália Mayumi Noda [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/151610
Resumo: Introdução: A infecção da cavidade amniótica e inflamação são associadas com o parto pré-termo espontâneo. Em geral, essas infecções são polibacterianas e causadas principalmente pela ascensão bacteriana do trato genital inferior. Dessa forma, a invasão microbiana da cavidade amniótica e o risco do parto pré-termo estão frequentemente relacionados à colonização vaginal por diferentes espécies bacterianas, incluindo aquelas de difícil cultivo, como micoplasmas genitais. Ureaplasma urealyticum e Mycoplasma hominis são as principais bactérias isoladas no líquido amniótico de gestações complicadas por parto pré-termo com membranas íntegras ou na presença de rotura prematura de membranas pré-termo. Além dos micoplasmas genitais, Gardnerella vaginalis merece destaque por ser a principal bactéria do core patológico da vaginose bacteriana e por estar associada ao risco de parto pré-termo. Dessa forma, considerando que a infecção da cavidade amniótica é de natureza polibacteriana, mimetizar esse cenário em membranas fetais in vitro se torna ferramenta importante para melhor entendimento dos mecanismos envolvidos no parto pré-termo. Objetivo: Avaliar a modulação da resposta imune induzida pela interação entre micoplasmas genitais e G. vaginalis nas membranas corioamnióticas in vitro. Material e Métodos: Para a estimulação da cultura in vitro, foram coletadas 8 membranas corioamnióticas de gestantes que tiveram a resolução da gestação por cesárea eletiva de termo (≥ 37 semanas de gestação), na ausência de trabalho de parto e/ou rotura prematura de membranas. As culturas das membranas corioamnióticas foram estimuladas com 106 ou 103 Unidades Formadoras de Colônias (UFC) de suspensão bacteriana, inativada pelo calor, diluída em meio de cultura de tecidos com U. urealyticum, M. hominis e G. vaginalis isolados ou em combinação. Amostras de membranas corioamnióticas, apenas com o meio de cultura, sem estímulo bacteriano foram usadas como controle negativo. Como controle positivo foi utilizado o lipopolissacarídeo (LPS) de Escherichia coli. Os sobrenadantes obtidos das culturas de membranas corioamnióticas, após 24 horas de estimulação bacteriana, foram avaliados pela tecnologia Luminex® xMAPTM utilizando um painel para as seguintes citocinas e receptores: IL-1β, IL-4, IL-6, IL-8, IL-10, IL-13, TNF-α, GM-CSF, sIL-1R1, sIL-1R2, sIL-6R, sTNF-R1, sTNF-R2. Além disso, pela técnica de ELISA foi avaliado o receptor solúvel sgp130, e por imunohistoquímica, a imunomarcação dos receptores de membrana mIL-6R e gp130 nas células coriônicas e no epitélio amniótico. A análise estatística para os dados de citocinas e receptores solúveis foi feita utilizando modelos de feitos mistos lineares usando a biblioteca Ime4 da linguagem de programação R. Os dados de imunohistoquímica foram avaliadas usando a análise de variância unidirecional (ANOVA) seguida pelo teste de Tukey, em que, o valor de p <0,05 foi considerado estatisticamente significante. O software empregados nessas análises foi o GraphPad Prism (GraphPad Software Inc., San Diego, CA, EUA). Resultados: A estimulação das membranas por micoplasmas genitais não aumentou a produção de citocinas pró-inflamatórias (IL-1β, IL-8, TNF-α, GM-CSF), exceto a estimulação com U. urealyticum que aumentou os níveis de IL-8. No entanto, a estimulação com U. urealyticum e M. hominis aumentaram significativamente os níveis de IL-10 e IL-13. A estimulação das membranas corioamnióticas por G. vaginalis isoladamente ou em combinação com micoplasmas genitais resultou em aumento de citocinas pró e anti-inflamatórias (IL-1β, IL-6, IL-8, IL-10, IL-13, TNF-α, GM-CSF). Quanto a produção de IL-6, todos os grupos aumentaram significativamente com relação ao controle não estimulado, com exceção ao estímulo com M. hominis isolado. Já os níveis de sIL-6R aumentaram significativamente somente com estímulo por U. urealyticum isolado ou em combinação com M. hominis. Além disso, o receptor solúvel sgp130 se apresentou em níveis elevados em todos os tratamentos, com exceção do tratamento com G. vaginalis isolada ou na combinação das três espécies bacterianas em cargas iguais. A análise imunohistoquímica mostrou maior imunorreatividade do receptor de membrana mIL-6R apenas nas células do âmnio na presença de LPS e G. vaginalis em comparação com o controle (p <0,0001), mas não para os grupos de M. hominis, U. urealitycum e estimulações polibacterianas. Além disso, o gp130 aumentou estatisticamente nas células do âmnio e cório estimuladas com LPS, G. vaginalis e todos os tratamento polibacterianos. Conclusões: Membranas corioamnióticas in vitro produzem perfil distinto de citocinas e receptores pró e anti-inflamatórios em resposta à estimulação por micoplasmas genitais e G. vaginalis isolados ou em combinação. G. vaginalis estimula resposta pró-inflamatória nas membranas fetais in vitro, que após 24 horas é regulada pela atividade anti-inflamatória da IL-6 através da via de sinalização clássica. Micoplasmas genitais induzem controle da resposta inflamatória pela produção de IL-13, IL-10 e sTNF-R2 favorecendo sua sobrevivência na cavidade amniótica. Além disso, o aumento de IL-6 por si só pode não ser indicativo de qualquer função, uma vez que a sua atividade é controlada por diferentes receptores de membrana e solúveis, sendo que sua produção pelas membranas fetais não deve ser mediador funcional das vias indutoras de trabalho de parto. A tentativa de correlacionar o risco de desfecho gestacional adverso baseado exclusivamente nos níveis de IL-6 em fluidos biológicos, sem considerar os receptores de IL-6, podem ser ineficazes.