Três passeios pelos bosques de Hogwarts: Os Contos de Beedle, o Bardo e a teia da metaficção

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Nogueira, Lígia de Medeiros [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://hdl.handle.net/11449/254861
https://orcid.org/0000-0002-8403-5766
Resumo: O fim da saga Harry Potter em 2007, escrita pela britânica Joanne Rowling, mais conhecida como J. K. Rowling, deixou um vazio no coração e na mente dos inúmeros leitores que acompanhavam a história do bruxinho Harry Potter publicada pela primeira vez em 1997. Um ano depois, a autora decidiu presentear os fãs com um pequeno livro azul intitulado Os Contos de Beedle, o Bardo (2008), contendo cinco contos de fadas bruxos escritos por Beedle, o Bardo, e cinco comentários correspondentes elaborados por Alvo Dumbledore, personagem da série canônica. A coletânea sem os comentários aparecera previamente em Harry Potter e as Relíquias da Morte (2007), pois um dos contos desempenhara papel relevante no desenvolvimento da trama do último volume. A obra inicia-se com uma introdução de Rowling acerca de sua natureza, e é povoada de notas de rodapé advindas da autora e de Dumbledore, além de ser uma tradução feita por Hermione Granger (outra personagem) a partir do original em runas antigas. Da mesma maneira com que mistura gêneros naturais (não-ficcionais) e artificiais (ficcionais), Rowling mescla conteúdos do universo mágico de Harry Potter e fatos de nossa realidade empírica, confundindo as barreiras entre ficção e realidade. Essa conjunção de fatores chamou nossa atenção como pesquisadores de literatura, e por isso decidimos dedicar nossa dissertação à compreensão da transposição desse spin-off literário - pois se trata de uma narrativa derivada do heterocosmo ficcional original - para a nossa realidade empírica como uma obra metaficcional. Para isso, nos propusemos a primeiro estabelecer a cultura da convergência como o contexto criador da obra, assim como discutir os conceitos envolvidos nessa criação, como a narrativa transmídia, o hipertexto e o fenômeno cult. Em seguida, situamos nosso objeto de reflexão na estética da metaficção, responsável por sua constituição e conteúdo, e, por meio da análise de trechos, identificamos as técnicas metaficcionais manipuladas pela autora. Por fim, debatemos como a junção dessas ferramentas produz o leitor-modelo da obra em questão e influi na sua relação com o universo de Harry Potter e com as narrativas de sua própria realidade. Também abordamos como a metaficção significa não o fim dos recursos realistas tradicionais ou do romance, mas uma renovação deles, atendendo às demandas e gostos conscientes e inconscientes do público-leitor. Em suma, chegamos à conclusão de que Os Contos de Beedle, o Bardo são tanto um reflexo de seu momento de criação quanto um estímulo aos consumidores do entretenimento produzido na cultura da convergência, atuando ademais em uma via de mão dupla na relação que estabelecem com seus leitores, uma vez que simultaneamente oferecem uma interpretação mais apurada da sociedade, do enredo e das personagens da saga canônica, um conhecimento mais técnico dos recursos ficcionais que os autores costumam manipular e um olhar mais suspeito para as narrativas supostamente verídicas e neutras que a História nos oferece. O leitor torna-se, assim, alguém que aproveita a leitura enquanto investiga-a, reunindo os três papéis que a metaficção lhe concede: leitor, crítico e autor