Carreamento nasal/oral de Staphylococcus aureus em populações indígenas do norte e sudeste do brasil: resistência antimicrobiana, virulência, fatores de risco e epidemiologia molecular

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Abraão, Lígia Maria [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/151310
Resumo: A origem racial representa um dos principais determinantes dos riscos de colonização e infecção por Staphylococcus aureus. Há algum tempo, comunidades indígenas têm se mostrado mais propensas em relação a tais riscos, apresentando linhagens de S. aureus com perfis distintos dos quais normalmente se encontram em populações não-nativas. Características peculiares entre diferentes populações, tais como viver em condições de superlotação, assistência em saúde prejudicada e condições precárias de higiene podem ser mais relevantes na patogênese de algumas formas de infecções por S. aureus. Deste modo, os indígenas inegavelmente se enquadram no grupo de risco para o carreamento de microrganismos resistentes, estando suscetíveis tanto à aquisição quanto à disseminação de infecções. O presente estudo objetivou a identificação da prevalência e de fatores de risco para carreamento nasal e oral de S. aureus sensíveis e resistentes à meticilina (Methicilinsensitive Staphylococcus aureus MSSA e Methicilin-resistant Staphylococcus aureus MRSA, respectivamente) em indígenas de comunidades do Norte e Sudeste do Brasil, avaliando a diversidade genética, disseminação, fatores de virulência e resistência antimicrobiana, associados às questões étnicas, demográficas, ambientais e comportamentais. Para tanto, foram coletadas amostras nasais e de orofaringe de 400 indígenas (116 da região sudeste e 284 da região norte) através de swabs estéreis e posteriormente elas foram semeadas em meio de cultura e identificadas pelos métodos tradicionais. Concomitantemente, foram levantados dados demográficos e clínicos dos sujeitos da pesquisa. Isolados de S. aureus foram submetidos a testes fenotípicos e genotípicos de suscetibilidade antimicrobiana e à caracterização do cassete cromossômico SCCmec. Para detecção dos genes de virulência, foi realizada a técnica da reação em cadeia de polimerase (PCR). A análise do perfil clonal se procedeu através da técnica Pulsed-Field Gel Electrophoresis – PFGE a fim de se identificar os clusters endêmicos na população. Com o intuito de se identificar grupos de genótipos relacionados, foi realizada a tipagem por Multilocus sequence typing – MLST. Os resultados evidenciaram taxa de prevalência geral de S. aureus de 47,6% (IC 95%: 42,64-52,64), enquanto que na região sudeste obteve-se um total de 43,1 % (IC 95% 33.94-52.62) e na região da Amazônia 49,4 % (IC 95% 43.50-55-45). Quando realizada a distribuição por sítios de colonização, as taxas foram 31,8% (IC 95%: 27,23 -36,82) de carreamento nasal e 25,7 (IC 95%: 21,53-30,55) oral. Em relação ao gene mecA de resistência à meticilina, 3 isolados foram positivos, sendo todos orais. Todas as amostras mecA positivas albergaram o SCCmec IV. Desse modo, a prevalência de MRSA no estudo foi de 0,7% (IC 95%: 0,19-2,37). Nenhuma amostra resistente foi identificada na região sudeste. Tratando-se da detecção dos genes de virulência, pôde-se evidenciar maior percentual dos genes relacionados às hemolisinas hla 96,3 e hld 80,6% e dos genes associados à produção do biofilme icaA 82,2 e icaD 72,7%. A identificação do perfil clonal através da análise por PFGE evidenciou presença de 21 clusters (>80% de similaridade) entre as populações nativas de ambos os estados, nos quais 5 clones principais agruparam amostras tanto das populações do sudeste quanto da região amazônica. Quando realizada análise pelo MSLT, identificou-se prevalência do complexo clonal ST 5, o qual reuniu amostras tanto de MSSA quanto MRSA, o quê sugere uma provável origem comum. Os resultados epidemiológicos mostraram associação do fator etnia com prevalência de S. aureus. Esse trabalho traz dados pioneiros acerca da epidemiologia de Staphylococcus aureus e MRSA em meio aos indígenas brasileiros. A análise do perfil clonal impulsiona a elucidação de questões relacionadas ao processo de evolução da bactéria estudada, sugerindo uma provável origem comum entre as diferentes estirpes encontradas. Por fim, os resultados epidemiológicos permitem inferir que o fator etnia está relacionado à prevalência de S. aureus em populações humanas.