Pelas pistas onomásticas: um estudo comparado da fonologia do português arcaico, do português europeu e do português brasileiro

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Macedo, Natalia Zaninetti [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/182577
Resumo: O estudo de nomes próprios em termos da investigação da identidade fonológica de uma língua foi sugerido por Massini-Cagliari (2004, 2010). De acordo com a autora, quando um falante decide adaptar (ou não) um nome de origem estrangeira ao sistema de sua língua, revela conhecer sua identidade linguística em termos rítmicos e ser capaz de operar com e sobre ela, adotando um posicionamento claro como sujeito usuário da língua. Neste trabalho, estudamos o processo de atribuição de antropônimos no Brasil e em Portugal, que apresentam regras muito específicas e distintas para a nomeação de seus cidadãos, e recorremos aos nomes próprios registrados nas cantigas medievais galego-portuguesas para o estudo de uma época da qual já não existem mais falantes nativos. O objetivo principal foi investigar o comportamento de falantes do Português Arcaico (PA), do Português Brasileiro (PB) e do Português Europeu (PE) em situações em que precisam fazer escolhas quanto à pronúncia de nomes próprios emprestados ou criados a partir de outros sistemas linguísticos. Analisamos, de acordo com as teorias fonológicas não lineares, questões relacionadas à sílaba e ao acento dos nomes oriundos do Português Medieval e do Português Contemporâneo (brasileiro e europeu). Para análises dos processos de adaptação fonológica no PA, coletamos e analisamos 673 nomes próprios registrados nas Cantigas de Santa Maria e nas cantigas profanas e os categorizamos de acordo com o sistema fonológico do PA delineado por Massini-Cagliari (1999, 2015), de modo que 15% dos topônimos e antropônimos encontrados apresentam padrões silábicos e/ou acentuais que não se encaixam nas regras fonológicas da língua da época. Para a análise do PB, utilizamos o corpus reunido por Macedo (2015), isto é, um total de 14.716 nomes próprios coletados em escolas da cidade de São Carlos, SP, dos quais dispúnhamos, para alguns deles, da transcrição fonológica e da descrição dos padrões silábicos e acentuais. Observamos processos de adaptação fonológica ocorridos na pronúncia de nomes emprestados do inglês e identificamos casos em que características prosódicas não default apareceram, contrariando as expectativas da língua de chegada, como padrões silábicos incomuns ou a manutenção de um padrão acentual excepcional no português (proparoxítonos e paroxítonos terminados em sílaba pesada). Dentre esses, encontramos nomes com grafias estilizadas e grande número de criações antroponímicas, que revelam a liberdade conferida pela legislação brasileira no que tange a escolha de nomes próprios. Para o estudo do PE, o corpus que coletamos reúne 3.948 antropônimos de fichas de batismo de 82 paróquias da diocese de Lisboa. Neste universo, encontramos 50 antropônimos aparentemente não pertencentes a cidadãos estrangeiros e que não constam na Lista de vocábulos admitidos como nomes próprios em Portugal, a qual traz um panorama dos nomes próprios adotados por cidadãos portugueses no triênio de 2014-2016. Alguns destes casos foram identificados como novas criações antroponímicas. As análises da transcrição da pronúncia de alguns nomes realizada por uma falante nativa de Portugal mostraram que, quanto aos parâmetros fonológicos, as principais irregularidades ao sistema da língua que observamos referem-se à adaptação de segmentos e ao deslocamento do acento. Em nomes não reconhecidos pela informante da pesquisa como pertencentes ao português, houve predominância de padrões marginais de acentuação. Por fim, constatamos que o PA é caracterizado por um maior grau de adaptação de nomes próprios estrangeiros à sua fonologia do que o Português Contemporâneo.