A territorialidade discursiva liberal-conservadora: o caso dos think tanks ultraliberais e sua discursividade na questão agrária no Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Ribeiro, Leandro Nieves [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://hdl.handle.net/11449/257216
Resumo: Esta tese objetiva compreender o sentido produzido pelo discurso ultraliberal sobre a questão agrária no Brasil, com foco em quatro temas centrais: o agronegócio, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a propriedade rural e a reforma agrária. A análise se baseia em textos publicados pelo Instituto Liberal, um think tank ultraliberal que busca influenciar a opinião pública, no seu site entre 2013 e 2023, buscando compreender a visão de mundo e os argumentos mobilizados por essa corrente ideológica. A pesquisa adota, como escopo teórico-metodológico, com foco na compreensão dos sentidos produzidos pelo discurso ultraliberal. Pretende-se investigar como essa territorialidade discursiva se manifesta na desinformação, negacionismo e radicalidade política em relação à questão agrária, bem como compreender de que forma o discurso desses think tanks incita o ódio e a perseguição de opositores. Também se busca examinar os impactos dessa territorialidade discursiva liberal-conservadora na construção de narrativas e na polarização do debate sobre a questão agrária no Brasil. No que se refere ao agronegócio, o discurso ultraliberal o enaltece como o único caminho para o desenvolvimento rural, chegando a afirmar que este modelo é "injustiçado" e "ameaçado" por movimentos sociais como o MST. Nessa perspectiva, os obstáculos ao agronegócio seriam a infraestrutura precária, a legislação ambiental e questão indígena, a "indústria da reforma agrária" e o protecionismo estatal, no qual o Estado “atrapalha” a prosperidade do setor. Já em relação ao MST, o discurso ultraliberal o criminaliza fortemente, tratando-o como "criminoso" e "bárbaro" por suas ações de ocupação de terras. Argumenta-se que tais ações ferem o direito sagrado e natural da propriedade privada, defendendo inclusive o uso de armas pelos proprietários rurais para se protegerem. No que diz respeito à reforma agrária, o discurso a deslegitima, considerando-a um "conceito vazio" e ineficiente, além de fomentar a corrupção. Nesse discurso, a propriedade privada é um direito absoluto que não deve ser interferido pelo Estado através de políticas redistributivas. A análise do discurso ultraliberal sobre a questão agrária brasileira revela uma visão de mundo centrada na defesa intransigente do livre mercado, da propriedade privada e do agronegócio, em detrimento de políticas redistributivas e da atuação dos movimentos sociais. Ao longo da análise, foram identificadas as três teses formuladas por Hirschman (2019) - da perversidade, da futilidade e da ameaça - para compreender a lógica argumentativa do discurso ultraliberal. Essa perspectiva revela a construção de uma territorialidade discursiva liberal-conservadora, marcada pela criminalização dos movimentos sociais, defesa irrestrita da propriedade privada e enaltecimento do agronegócio. Em síntese, o sentido do discurso ultraliberal sobre a questão agrária reflete uma visão de mundo que prioriza o lucro, a propriedade privada e o agronegócio, em detrimento dos interesses e demandas dos movimentos sociais e da população rural mais vulnerável. Essa abordagem contribui para a perpetuação das desigualdades e conflitos no campo brasileiro, ao defender um modelo de desenvolvimento excludente e concentrador de riqueza e terra.