Argumentação, cognição e discurso: a polêmica entre conservadores e liberais sobre a imigração para o Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Sousa, Douglas Rabelo de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-15032019-122453/
Resumo: Nosso objetivo, nesta dissertação, é analisar a partir de uma metodologia empírico-indutiva com foco na descrição e na interpretação de dados linguísticos rumo a uma crítica sociodiscursiva a polêmica travada nas mídias online entre conservadores e liberais acerca da imigração Sul-Sul, motivada por uma declaração do deputado federal Jair Bolsonaro (2015), que qualificava esse conjunto de imigrantes como a escória do mundo. Tal polêmica se estendeu ao longo de dez textos, em um corpus composto por uma variedade de gêneros dentre os quais destacamos reportagens, artigos, editoriais e vídeos na plataforma YouTube. O arcabouço teórico central da pesquisa consiste nos Estudos Críticos do Discurso (Fairclough, 2003; Melo, 2012; van Dijk, 2014; Gonçalves-Segundo, 2018a), uma abordagem multidisciplinar voltada ao exame da dimensão semiótica de problemas sociais. Em termos de convergência teórica, procedeu-se a um diálogo com os estudos sociais, históricos e antropológicos sobre a imigração, com a Linguística Cognitiva e, especialmente, com a Teoria da Argumentação. Em termos da prática analítica, partimos, inicialmente, do modelo de argumentação epistêmica de Toulmin (2006[1958]) e de argumentação prática de Fairclough e Fairclough (2012) para descrever os movimentos argumentativos de cada texto e entender de que forma liberais e conservadores sustentavam suas posições favorável e desfavorável à imigração na cadeia textual. Finda essa etapa, valemo-nos das categorias linguístico-cognitivas de analogia, metáfora e posicionamento epistêmico para verificar de que forma tais representações eram conceptualmente perspectivadas, processo que está diretamente relacionado com o grau de convencimento e de persuasão da argumentação em análise. Com base nesse procedimento, pudemos constatar que conservadores tendem a conceber os imigrantes Sul-Sul como potencialmente criminosos, como um fardo para a economia do país e como fundamentalistas e, portanto, resistentes à assimilação cultural, de modo que a sua entrada no país deva ser controlada e bloqueada. O principal valor mobilizado por esse grupo é a segurança, sustentada na crença de que o Estado é capaz de fiscalizar o contingente imigratório e que as Forças Armadas são um aliado nesse processo. Predomina, nesse discurso, o uso de recursos evidenciais perceptivos e analogias associadas à construção do imigrante como criminoso e como fardo. Já no que se refere ao discurso liberal, pudemos depreender que não se tende a conceber os imigrantes Sul-Sul como criminosos, e sim, como um instrumento para o progresso do país, dotado de capacidade de assimilação cultural; seu peso para o Estado não deriva do seu estatuto de imigrante em si, mas do grau de implementação do Estado de Bem-Estar Social do país receptor. Os principais valores que sustentam esse discurso são o mérito e a liberdade, especialmente, a livre circulação. É relevante, nesse discurso, o uso de recursos evidenciais comunicativos e analogias associadas à desconstrução do imigrante como fardo e criminoso, equiparando-os aos imigrantes que vieram ao Brasil no fim do século XIX e no início do século XX.