Da materialidade ao gesto: arte como tessitura utópica de romances distópicos anglo-americanos (1932-2019)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Grecca, Gabriela Bruschini [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/204910
Resumo: Esta Tese se destina a confrontar ideias acerca da utopia da arte a partir da compreensão de eventos latentes em oito romances distópicos anglo-americanos. Diante da miríade de pesquisas acerca das motivações estruturais dos pesadelos distópicos literários, colocamos como objeto central justamente aquilo que nessas obras é residual dos horizontes utópicos possíveis: seus próprios gestos de narrar. Em um primeiro agrupamento de romances – as “distopias paradigmáticas” –, notamos que todo encontro dos protagonistas com as narrativas de um terceiro (preferencialmente, por meio da leitura pessoal de livros) é, também, um gesto que marca a interrupção de um cotidiano altamente reificado que comanda quais manifestações artísticas podem ou não passar, sob o crivo dos setores dominantes que priorizam a regressão autoritária e a carceragem das vidas desidênticas à ordem. Nesse conjunto, os romances que nos levaram a perceber o teor utópico de catalisar a emancipação pela arte (cf. Bloch 1995a, 1995b) são, em ordem cronológica: Brave New World (1932), Swastika Night (1937), Player Piano (1952) e Fahrenheit 451 (1953). Por outro lado, no que diz respeito ao que intitulamos “distopias contemporâneas”, iniciamos por tomar a tendência anteriormente observada como pressuposto hipotético para estas últimas – a saber, The Handmaid’s Tale (1985), The Gold Coast (1988), Parable of the Sower (1993) e The Testaments (2019). Contudo, verificamos que, diante do mesmo impasse, a dinâmica se faz de forma diferente: há uma radicalização que discute e questiona o potencial utópico da arte de modificar uma estrutura social, sem, no entanto, abandoná-lo. Em seu lugar, há um direcionamento da utopia do “produto” (obra de arte) para a produção (e seu produtor): tais romances distópicos nos convidam para refletir sobre as potencialidades dos atos de narrar, textualizando a produção de contracorrentes individuais e coletivas por meio de recursos, principalmente, metanarrativos (cf. Nünning, 2001; Fludernik, 2003). Concluímos, assim, que ambos os processos descritos são diferentes vias de atravessar a existência social por meio do que denominamos estetização da utopia. Assim, primeiramente, convidamos o leitor a circular pela trajetória conceitual e analítica estabelecida ao longo do doutorado para compreender os caminhos e percursos estabelecidos até a chegada dos entendimentos acima referidos. Em segundo lugar, buscamos demonstrar como foi possível sustentar e confirmar a hipótese de que tanto as distopias paradigmáticas como as contemporâneas traduzem, em seus gestos de narrar, vetores utópicos sobre a literatura e a arte no geral, uma vez que se entenda que a utopia só se realiza à medida em que acompanha os objetos que se propõe a descrever – historicizando-se e buscando, nas mediações, aceitar o confronto e a desestabilização com suas pressuposições originais (cf. Adorno, 2003, 2013; Jameson, 1994, 2005). Por fim, procuramos sinalizar, a partir dessas considerações, como ambas as formas de enxergar a utopia da arte triunfam (i) ao revitalizar nossas maneiras de compreender como a experiência é precarizada quando as vias de estetizá-la são interrompidas, bem como (ii) ao, com sua balística imanente, perfurar o áporo do emudecimento da voz e da adesão irrestrita ao despotismo a um só golpe.