Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2019 |
Autor(a) principal: |
Krepschi, Victor Gasperotto [UNESP] |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
eng |
Instituição de defesa: |
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
http://hdl.handle.net/11449/183660
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Resumo: |
O efeito da redução do habitat natural na biodiversidade é idiossincrática a respeito das relações que se estabelecem entre as espécies e as características das paisagens modificadas pelo homem. Nesse contexto, as evidências científicas evidenciam cada vez mais a importância de se utilizar não somente a escala espacial na interpretação das respostas da biodiversidade, mas também a escala temporal. A correlação dos parâmetros biológicos atuais com características do ambiente pretérito mostra que respostas atrasadas das espécies às modificações podem ocorrer após um distúrbio ambiental, o que como consequência, gera interpretação errôneas da relação das espécies com os ambientes da paisagem no presente, o que vem a comprometer as subsequentes tomadas de decisão de viés conservacionista. A fim de compreender como espécies de mamíferos de médio e grande porte neotropicais estão respondendo à paisagens de Cerrado que passaram por redução de habitat ao longo de um intervalo temporal de 48 anos, a presente tese objetivou em seus capítulos: (i) caracterizar a trajetória e a transição das classes de cobertura e uso do solo de três paisagens modificadas pelo homem, (ii) Detectar a existência de respostas atrasadas de sete espécies de mamíferos neotropicais de médio e grande porte em relação ao ambiente nativo dessas três paisagens e (iii) detectar a existência de limiares ecológicos nas respostas de seis espécies de mamíferos neotropicais a ambientes nativo e antrópico. As três paisagens de estudo estão compreendidas na região nordeste do estado de São Paulo e possuem remanescentes de vegetação nativa de Cerrado e de Mata Atlântica sob diferentes graus de proteção ambiental. A partir dos limites das áreas protegidas criou-se uma zona de amortecimento de cinco quilômetros a fim de delimitar a extensão das paisagens a serem estudadas. As classes de cobertura e uso do solo dessas paisagens foi criada a partir de fotointerpretação de imagens aéreas, retroativamente no tempo, nos anos de 2010, 1983 e 1962. Foram determinadas 206 paisagens focais circulares de 200ha nas paisagens de estudo, de forma aleatória e igualmente distribuídas dentro e fora de áreas protegidas, a fim de se calcular a proporção das classes de cobertura e uso do solo em cada paisagem focal. Dessa forma, caracterizaram-se a trajetória de cada classe de cobertura e uso do solo e a transição das classes de vegetação nativa de cada paisagem, entre os períodos e entre as paisagens. Para a amostragem biológica de mamíferos de médio e grande porte foi instalada uma armadilha fotográfica durante 30 dias consecutivos em cada uma dessas paisagens focais para obtenção de registros fotográficos das espécies. Os registros de sete espécies foi individualmente estruturados em históricos de captura de 6 ocasiões de 5 dias, que juntamente com as covariáveis de paisagem específica de cada espécie, foi utilizado para as análises de respostas atrasadas (Capítulo 2) e de limiares ecológicos (Capítulo 3). O método de estimativa de ocupação considerando a detecção imperfeita de espécies, na estrutura de espécie única e estação única foi empregado para essas duas análises. Os principais resultados obtidos foram de que duas das paisagens possuíram predominância de Cerrado aberto (ambiente savânico) na primeira cena temporal da trajetória da paisagem, mostrando que a interpretação encontrada no ano de 2010, a qual indica uma similaridade das áreas em relação ao percentual de cobertura de vegetação nativa, é equivocada. Também demonstrou-se que as principais modificações no ambiente nativo ocorreram entre os anos de 1962 e 1983 em comparação com a magnitude de modificação ocorrida no segundo período, de 1983 a 2010, principalmente em decorrência da expansão agrícola, em parte incentivada por ações governamentais como o programa Pró-álcool. O terceiro resultado mais importante desse capítulo foi a de detectar que o Cerrado aberto foi drasticamente substituído não somente pelas culturas de cana e de reflorestamento comercial de eucalipto e pinus, mas também pela contínua substituição ocasionada adensamento de espécies florestais sobre as espécies da savana, um fenômeno que ocorre ao redor das savanas do mundo conhecido como “savanna enchroachment”, como uma consequência da supressão do fogo no ecossistema savânico do Cerrado. O resultado das análises de respostas atrasadas evidenciou que das sete espécies de mamíferos investigadas, três, o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), o lobo-guará (Chrysocyon brachiurus) e o veado-catingueiro (Mazama gouazoubira), estão mais fortemente associadas com o Cerrado aberto existente em 1962 do que com as classes de cobertura do solo da paisagem atual, com exceção do lobo-guará, que também demonstrou uma resposta negativa à proporção atual de cana-de-açúcar nas paisagens. Baseando-se na literatura disponível de respostas atrasadas, estimou-se, de forma conservadora, que um intervalo de tempo entre 40 e 60 anos seria necessário para a primeira espécie de mamífero de grande porte se extinguir das paisagens, o que provavelmente já ocorreu na comunidade de mamíferos neotropicais de médio e grande porte dessa região. Em relação à ocorrência de limiares ecológicos na resposta das espécies à vegetação nativa e à silvicultura, foi encontrado que somente o caititu (Pecary tajacu) apresenta resposta em limiar para a floresta nativa em uma das paisagens, necessitando quantidades superiores a 50% de floresta nativa na paisagem para assegurar que declínios acentuados em sua ocupação não ocorram. Ainda que as paisagens de estudo não retenham essa quantidade de vegetação nativa como um todo (retém em torno de 27% de cobertura de vegetação nativa), o que se sugere é que a presença de um único e grande remanescente de vegetação nativa protegido como Unidade de Conservação Integral em uma das paisagens do estudo esteja exercendo efeito positivo na permanência dessa espécie de mamífero com elevada dependência dos recursos florestais. Essa evidência se contrapõe à proposição do Projeto de Lei no 2362/2019, em tramitação no Senado Brasileiro, de revogar a existência das Reservas Legais no Código Florestal da Constituição Brasileira, essas que compreendem uma quantia fixa de ambientes nativos preservados dentro de terras privadas para assegurar o bom funcionamento e provisão de serviços do ecossistema. Os achados desse estudo indicam que o desaparecimento das savanas nas paisagens de estudo ameaça a permanência de espécies de mamíferos de médio e grande porte, incluindo duas espécies que encontram-se sob estado de ameaça de extinção. A principal medida de conservação sugerida para essas paisagens de estudo e contextos de ocupação humana similares em outras localidades é a de aumentar a proporção de vegetação nativa em paisagens modificadas pelo homem, em especial das fitofisionomias abertas do bioma Cerrado. Contudo, recomenda-se que técnicas de restauração apropriadas para a manutenção do Cerrado savânico sejam adotadas, de forma a evitar que ambientes florestais nativos aumentem em detrimento de ambientes nativos de feição aberta. |