Planície fluvial e campo de dunas eólicas do médio rio São Francisco: cronologia de depósitos e sucessão de eventos geológicos no Quaternário do Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Mescolotti, Patricia Colombo [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/215767
Resumo: Grandes rios, como o São Francisco, são sistemas dinâmicos cuja evolução depende de forçantes internos e externos, particularmente tectônica, nível do mar e clima. O São Francisco é o maior rio da porção mais oriental da América do Sul, com seu curso superior em ambientes semiúmidos, mas com sua bacia hidrográfica principalmente em condições semiáridas. Como sua bacia está em áreas tectonicamente estáveis e controlada pelo nível de base local, os depósitos do São Francisco são excelentes registros sedimentares fluvial para entender como grandes sistemas de rios tropicais responderam às mudanças climáticas do passado. Associado diretamente ao rio São Francisco, o sistema eólico Xique-Xique é o maior campo de dunas do interior do Quaternário no Brasil (~ 8.000 km²). Objetivando estabelecer a cronologia dos depósitos e a evolução dos eventos geológicos quaternários para o campo de dunas de Xique-Xique e para os depósitos aluviais do rio São Francisco, investigamos um trecho de 200 km do médio curso do São Francisco, na Bahia, Nordeste do Brasil. Para isso, utilizamos abordagem multi-métodos, usando sensoriamento remoto e levantamentos de campo para análises geomorfológicas e sedimentológicas combinadas com datação por luminescência opticamente estimulada (OSL). Dez zonas geomorfológicas fluviais e eólicas foram caracterizadas, mapeadas e datadas. Duas zonas fluviais compreendem terraços degradados, e três zonas abrangem a planície agradacional confinada ativa. Reconhecemos pelo menos quatro fases de agradação fluvial (> 90 ka; 65 a 39 ka; 18 a 9,5 ka e 380 anos a recente) e três fases de incisão (I1 - 85 a 65 ka; I2 - 39 a 18 ka e I3 - 9,5 a 1,0 ka). O desenvolvimento inicial do campo eólico de Xique-Xique se deu em pelo menos ~ 250 ka e compreende dunas parabólicas estabilizadas (simples e compostas), lençol de areia e dunas parabólicas ativas. Reconhecemos dois eventos principais de atividade eólica (~ 23 a 18 ka e ~ 15 a 10 ka) e duas fases de estabilização de dunas (~ 18 a 15 ka e desde 5 ka). Interpretamos que os dois grandes sistemas aqui estudados (fluvial e eólico) interagem entre si e respondem de forma diferente aos gatilhos climático, em especial a precipitação e o vento. Os eventos de incisão ocorreram devido ao aumento da descarga fluvial produzida pela intensificação da Zona de Convergência do Atlântico Sul, que tem grande influência na precipitação sobre o alto curso do rio. Assim, concluímos que os ciclos de agradação-incisão do rio São Francisco durante os últimos 100 ka são prováveis produtos da variação milenar da precipitação. Já para a dinâmica eólica, as mudanças de precipitação na área influenciaram principalmente o processo de estabilização das dunas por vegetação, em especial no úmido HS1 (evento Heinrich 1). Contudo, os momentos de atividade das dunas aqui reconhecidos foram mais condicionados pelas mudanças de disponibilidade de sedimentos fluviais. Assim, os eventos eólicos estão intimamente relacionados com os eventos de incisão/deposição fluvial na área, conferindo um excepcional caso de interação flúvio-eólica no Quaternário do Brasil. O amplo sistema eólico interior de Xique-Xique resulta da conjugação da grande disponibilidade de sedimentos fornecidos principalmente pelo rio, as altas velocidades dos ventos de leste e a desaceleração significativa do vento causada pela serra de quartzito na borda oeste do campo de dunas