Emoção e delinquência: interfaces entre a filosofia de Foucault e a psicanálise de Winnicott

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Sousa, Alex Pereira de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/235324
Resumo: Investigamos as relações entre emoções acometidas no ambiente carcerário, sobretudo na Fundação CASA, e ressocialização do interno, tendo em vista a previsão legal contida em seu ordenamento jurídico, especificamente nas entrelinhas das medidas socioeducativas do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Partindo desse contexto, nosso objeto de pesquisa é a delinquência. As relações de causa e consequência desse mesmo objeto são investigadas à medida que se desenvolvem os três capítulos deste trabalho. Face à proporção de movimento e de repouso das afecções dos corpos, o aspecto contingencial é um fator que pode implicar em mudanças repentinas na constituição psicológica do interno. Em contrapartida, pode fortalecer as interações propiciadas através de ajustes emocionais. Há, no entanto, um antagonismo nesse lócus. Isso porque, ao avançarmos na categoria tempo, observamos uma tendência a uma diminuição da potência de agir do corpo motivada pelas paixões, por assim dizer, tristes, à medida que o projeto de (re)construção ontológica deste adolescente vai progredindo rumo à constituição do self (identidade), baseado no conflito de sentimentos e de desejos que tende a modificar a estrutura psíquica desse interno a ponto de sujeitá-lo a uma perda gradativa da potência do intelecto ou da sua liberdade. Tais elementos surgem a partir da servidão proposta frente à força dos afetos que lhes tocam e que podem lhes modificar instantaneamente. Em contrapartida, essas mesmas forças podem fortalecer um sistema cultural e psíquico a ponto de determinar reações positivas na conduta moral do interno. Neste trabalho, em primeiro lugar, realizamos alguns apontamentos metodológicos inerentes ao tema da pesquisa como a estrutura do sistema penitenciário, seu ordenamento jurídico e os dispositivos apontados por Foucault em algumas de suas obras. Explicitamos alguns aspectos emocionais que levam o sujeito a cometer condutas antissociais, tema abordado por Donald Winnicott. Nesse aspecto, alguns pontos relativos à metapsicologia foram abordados como, por exemplo, os conceitos de holding, privação versus deprivação, sentimentos de culpa, espaço transicional, sublimação e resistência. Ademais, abordamos as relações de poder e as estruturas do modelo penitenciário, analisadas pelo viés de uma sociedade entendida como disciplinar, tema abordado em Vigiar e Punir por Michel Foucault. Por fim, expomos algumas diferenças e aproximações entre os pensamentos de Foucault e Winnicott, principalmente, na análise sobre a resistência e a ética do cuidado de si, no âmbito de uma concepção do indivíduo biopolítico, imerso não somente dentro do seu contexto sociocultural, mas que também é submetido a agir de acordo com suas capacidades emocionais inconscientes. Entendemos que a biopolítica apontada por Foucault instaura forças de resistência, contrapondo-se, em alguns momentos, à resistência apontada por Winnicott, mas que dialoga de modo convergente quando se percebe que a resistência na visão da clínica psicanalítica de Winnicott também opera a favor do indivíduo durante as interações ambientais, aumentando sua potência de agir, assim como a filosofia de Foucault insinua no pensar o cuidado de si como uma ética a favor da máxima potência do indivíduo. Compreendemos que as problemáticas contidas nesse ambiente estão em consonância com os dispositivos nomeados por Foucault, como discursos narrativos normatizadores de condutas éticas e morais, sendo a delinquência um deles; e o rompimento com o Estado durante a prisionização do adolescente, ou os vínculos com facções criminosas, são formas de desarranjos emocionais, elucidados pelo contexto da relação mente/corpo e estruturados a partir de uma abordagem epistemológica e cognitiva presentes na filosofia da mente.