A imago mortis em Kiriale, de Alphonsus de Guimaraens

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Martins, Grazzielle Forcato
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/192013
Resumo: Este trabalho tem por objetivo analisar a representação da morte em Kiriale (1902), de Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), considerando a composição imagética. Nesse âmbito, pretende-se discutir as relações entre o sistema de imagens macabras de Kiriale e a iconografia do memento mori (“lembra-te que morrerás”), emblema que enfeixa determinada tradição de representação da morte cujas origens remontam a fins da Idade Média. O momento do fim da Idade Média se mostrou terreno fértil para especulações acerca da natureza da morte em virtude de fatores históricos: a disseminação da Peste Negra e a recorrência de guerras no cenário europeu aproximaram o contato do homem com o corpo morto, a putrefação e o esqueleto, de modo que, na tentativa de compreender a natureza destes fenômenos, expressões artísticas de diversas espécies passaram a ser produzidas com abundância. Tratando ora do momento da morte, como os manuais de boa morte ou ars moriendi, ora da natureza niveladora da morte, como as danças macabras, ora da efemeridade da vida e condenação da vaidade, como os vanitas, as diversas produções foram enfeixadas sob o único tema latino “memento mori” a fim de sintetizar a sensibilidade da arte medieval diante da inexorabilidade da morte. Com o romantismo, o século XIX volta suas atenções ao imaginário medieval como forma de questionar os modelos da arte clássica; com efeito, o medievalismo romântico favoreceu a retomada do fascínio pelo macabro nas artes, estabelecendo uma série de motivos que repercutem sobre a poesia simbolista de fins dos oitocentos, contexto em que se inscreve a lírica de Alphonsus de Guimaraens. A imagética da morte em Kiriale, de Alphonsus de Guimaraens, embora dialogue com a tradição do memento mori, reconduz os motivos tradicionais ao plano de uma poesia experimental, em que a tentativa de plasmar o fenômeno da morte em seus múltiplos aspectos reflete atração da estética simbolista pelo misterioso e inescrutável. Assim, a imago mortis em Alphonsus de Guimaraens não se desenvolve a serviço da composição de uma alegoria sentenciosa sobre o destino inexorável dos viventes, como ocorre na icnografia macabra tradicional, mas surge como espaço de experiência estética que se apropria das referências da iconografia tradicional para a composição de uma poesia de acentuado apelo plástico, em que se configura uma singular liturgia do macabro. Grosso modo, pode-se dizer que, enquanto as artes plásticas macabras do passado são orientadas por flagrantes intenções retóricas, a poesia de Alphonsus de Guimaraens despe-se de toda a eloquência para colocar em primeiro plano a imagem impactante e sugestiva. Partindo deste princípio, nossa análise de Kiriale objetiva demonstrar a permanência de uma tradição representativa da morte ressignificada por procedimentos expressionais modernos, tais como a metalinguagem, a dicção elíptica, a exploração do fragmentário e, sobretudo, a ênfase no elemento plástico.