Um amante diabolicamente melancólico: erotismo, melancolia e criação poética na epistolografia amorosa de James Joyce

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Andrade, Rangel Gomes de [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/236779
Resumo: A correspondência amorosa de James Joyce endereçada a Nora Barnacle, datada dos anos de 1904 e 1909, em razão de seu acentuado aspecto erótico, é considerada uma dimensão peculiar da produção do autor irlandês. Salvo raras exceções, essa produção tem sido abordada com um olhar de exotismo pela crítica joyceana, que a trata apenas como uma curiosidade que orbita a obra do escritor, visto oferecer detalhes sórdidos de sua vida sexual. Contra tal tendência, este trabalho visa abordar a epistolografia de Joyce a partir da articulação entre erotismo, melancolia e criação poética, elementos presentes especialmente nas cartas datadas do ano de 1909. Consideramos que a fase de juventude da vida e obra do escritor, respectiva à primeira década do século XX, é marcada por uma concepção romântica do gesto artístico, em que os atos de viver e criar se interpenetram, encontrando na carta o veículo por excelência de expressão do eros melancólico vivenciado pelo escritor. A partir dessa chave, abordamos, com base em teóricos do gênero epistolar, a carta enquanto instância por onde vida e criação se cruzam. Num segundo momento, discutimos alguns aspectos do Romantismo e do conceito de visão romântica de mundo, enquanto noção que se estende para além da localização cronológica do movimento romântico, para, a seguir, articularmos as relações entre melancolia, erotismo e criação poética, partindo de uma exposição histórica que perpassa certos momentos paradigmáticos que se estendem da Antiguidade à Era Romântica. No que se segue, delineamos a persona romântica do jovem Joyce a partir da análise do percurso formativo de Stephen Dedalus, alter ego do escritor, no romance autobiográfico Um retrato do artista quando jovem, procurando demonstrar como a máscara do melancólico romântico encobre a figuração literária de Joyce. Por fim, analisamos a correspondência amorosa do escritor irlandês, na qual se desenvolve a expressão poética do eros melancólico, desencadeado pela distância da mulher amada, bem como pela solidão e alienação do escritor em sua terra natal, para onde retorna após sua partida em 1904. Um fator contingente, isto é, uma falsa acusação de traição contra Nora ocorrida nessa época, desencadeia em Joyce o sentimento de perda do objeto amado, fazendo aflorar fantasmagorias, imagens e delírios eróticos com a finalidade de sanar, por meio da linguagem, a falta e a perda do objeto que marca a experiência melancólica. Joyce, nesta fase, assume a máscara do melancólico romântico, que se entrega à paixão, à volúpia e à perdição personificadas na figura feminina para, através dela, ter acesso à criação.