Organização e estrutura social do mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus) em uma mata ripária

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Souza, Breno de Lima [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://hdl.handle.net/11449/257883
Resumo: Os calitriquídeos possuem um sistema social cooperativo, onde vários indivíduos cuidam dos filhotes (helpers) e apresentam elevada taxa de comportamentos afiliativos e baixa taxa de agonismo. Contudo, não existem estudos sobre as interações sociais do mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus), uma espécie de calitriquídeo endêmica do estado de São Paulo (Brasil) e em perigo de extinção. Objetivamos determinar a organização social (tamanho e composição) e a estrutura social (hierarquia social, padrões de interações agonísticas e afiliativas) de dois grupos de mico-leão-preto (Rondinha e Estação) em uma mata ripária, no município de Buri. Acompanhamos os grupos de dormitório a dormitório (5:30 a 18:30) de março a julho e de setembro a novembro de 2023 (total de 45 dias). Registramos o número, sexo e categoria de idade dos indivíduos de cada grupo, previamente marcados individualmente, e a frequência de interações afiliativas (catação, transporte e provisão dos filhotes) e agonísticas (perseguição, ataque e luta), sendo anotados o doador e o receptor da interação. Determinamos a hierarquia social através do Normalized David’s Score e aplicamos análises de redes para os dados de catação. Testamos o efeito da hierarquia e do sexo dos indivíduos na frequência de catação recebida e doada (in-strength e outstrength) e na frequência de transporte e provisão dos filhotes utilizando modelos lineares generalizados mistos. O tamanho do grupo Estação variou de sete a nove indivíduos e do grupo Rondinha de cinco a nove indivíduos, havendo a reprodução de duas fêmeas, nos dois grupos, em um mesmo período. Nossos resultados demonstraram que, nesses grupos, os machos adultos são dominantes sobre fêmeas. Além disso, a hierarquia social e o sexo dos indivíduos não influenciaram na métrica de in-strength, mas sim em out-strength, contrariando nossas expectativas ao indicar que fêmeas subordinadas doam mais catação. Ademais, as fêmeas subordinadas foram responsáveis pela frequência significativamente maior de provisão dos filhotes e os machos dominantes de transporte. Esses resultados sugerem que as fêmeas subordinadas usam a catação de forma estratégica para reforçar laços sociais, permanecer no grupo e se reproduzir. Já os machos dominantes podem usar o transporte dos filhotes para garantir o aumento de fitness individual ou de seus parentes. A maior proporção de tempo usado para o transporte dos filhotes diminui consequentemente o tempo dedicado ao forrageio, o que leva possivelmente à redução do acesso a alimento, resultando no menor provisionamento aos filhotes quando comparado às fêmeas. Tais resultados revelam aspectos do sistema social do mico-leão-preto em uma mata antropizada, sugerindo o uso da catação como “moeda de troca” pelas fêmeas subordinadas para obter tolerância social e garantir a sobrevivência de seus filhotes em grupos poligínicos.