Detecção e caracterização molecular de agentes Anaplasmataceae, hemoplasmas, piroplasmídeos, hemosporídeos e Coxiella burnetii em quirópteros hematófagos amostrados em diversas regiões do Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: de Mello, Victória Valente Califre
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: eng
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://hdl.handle.net/11449/254866
Resumo: A ordem Chiroptera (do grego Cheir=mão e pteron=asas) representa o grupo mais particular da Classe Mammalia. A capacidade de vôo associada ao sistema de ecolocalização permitiu a colonização de diversos nichos e sua ampla distribuição geográfica, vivendo em contato próximo com animais domésticos e humanos. A subfamília Desmodontinae, pertencente à família Phyllostomidae, é composta por três espécies de morcegos hematófagos: Desmodus rotundus, Diphylla ecaudata e Diaemus youngii. O presente estudo teve como objetivo investigar a ocorrência de agentes transmitidos por vetores (agentes Anaplasmataceae, hemoplasmas, piroplasmídeos, hemosporídeos e Coxiella burnetii) em morcegos hematófagos amostrados em diferentes estados brasileiros. O trabalho foi realizado em duas partes: a primeira incluiu 198 amostras de fígado de morcegos hematófagos pertencentes às espécies Desmodus rotundus (n = 159), Diphylla ecaudata (n = 31) e Diaemus youngii (n = 8), provenientes de 15 diferentes estados brasileiros e gentilmente cedidas ao nosso grupo de pesquisa pelo Laboratório de Biologia Evolutiva e Conservação, Instituto de Biologia (IB), USP (São Paulo, SP, Brasil). Das 198 amostras de fígado dos morcegos hematófagos amostrados, 1,5% mostraram-se positivas para Neorickettsia sp. (nested[n] PCR 16S rRNA) e 6,06% para hemoplasmas (PCR 16S rRNA). Nenhuma amostra de fígado mostrou-se positiva para piroplasmídeos, hemosporídeos, Anaplasma spp., Ehrlichia spp. e C. burnetii. Análises filogenéticas baseadas no gene 16S rRNA posicionaram as sequências de hemoplasmas detectadas no presente estudo dentro do grande “grupo haemofelis”, compartilhando um subclado com hemoplasmas previamente detectados em morcegos hematófagos (D. rotundus, D. ecaudata) e morcegos não-hematófagos (Carollia sowelli e C. perspicillata) de Belize, Peru e Brasil. Alta diversidade genotípica foi identificada entre as sequências do gene 16S rRNA de micoplasmas hemotrópicos detectadas entre os morcegos analisados. Sequências 16S rRNA de Neorickettsia spp. detectadas nas amostras de fígado apresentaram alta identidade com Neorickettsia sp. previamente identificada em morcegos não-hematófagos do Brasil. Este é o primeiro estudo a relatar Neorickettsia sp. em morcegos hematófagos. Na segunda parte da tese, foram utilizadas 229 amostras de baço de morcegos hematófagos pertencentes às espécies D. rotundus (n = 228) e D. youngii (n = 1), gentilmente cedidas ao nosso grupo de pesquisa pelo Laboratório de Diagnóstico de Raiva do Instituto Evandro Chagas, São Brás, Belém, Pará, coletadas entre os anos de 2017 e 2019, nos estados do Pará (206 D. rotundus e 1 D. youngii), Roraima (18 D. rotundus), Amapá (3 D. rotundus) e Amazonas (1 D. rotundus). Dentre as 229 amostras de baço testadas, 10,04% mostraram-se positivas para hemoplasmas (PCR 16S rRNA), 18,77% para piroplasmídeos (nPCR 18S rRNA), 3% para Ehrlichia spp. (PCR dsb), 5,2% para Anaplasma spp. (nPCR 16S rRNA) e 10,9% para Neorickettsia spp. (nPCR 16S rRNA). Nenhuma amostra de baço mostrou-se positiva para hemosporídeos (nPCR 18S rRNA) e C. burnetii (qPCR IS1111) Análises filogenéticas baseadas no gene 16S rRNA de hemoplasmas posicionaram as sequências obtidas no presente estudo dentro do grande “grupo haemofelis”, em três clados distintos, com hemoplasmas previamente detectados em morcegos hematófagos e nãohematófagos do Brasil, Peru, Belize, Costa Rica e Alemanha. A análise filogenética baseada no gene 23S rRNA de hemoplasmas posicionou a sequência obtida no presente trabalho próxima àquelas previamente detectadas em morcegos nãohematófagos do Brasil e de Belize. Alta diversidade genotípica foi verificada entre hemoplasmas associados a morcegos hematófagos e não-hematófagos no Brasil e no mundo. Análise filogenética baseada no gene 18S rRNA quase completo de piroplasmídeos, por sua vez, posicionou as sequências obtidas de três D. rotundus em clados distintos (Theileria sensu stricto, Tapirus terrestris e “South America Marsupialia”), demonstrando a ocorrência de diferentes espécies de piroplasmídeos em morcegos hematófagos. O presente trabalho relatou, pela primeira vez, a ocorrência de Babesia spp. e Theileria spp. em D. rotundus. As análises filogenéticas baseadas nos genes dsb e ftsZ de Ehrlichia e 16S rRNA de Anaplasma spp. revelaram proximidade filogenética dos genótipos detectados em morcegos hematófagos com agentes Anaplasmataceae associados a ruminantes domésticos, enquanto as inferências filogenéticas baseadas nos genes gltA e groEL revelaram a ocorrência de genótipos potencialmente exclusivos de quirópteros. Neorickettsia sp. filogeneticamente associada a N. risticii foi detectada em morcegos hematófagos amostrados do Norte brasileiro. Co-positividade para os diversos agentes pesquisados foi identificada em amostras de fígado e baço de morcegos hematófagos no Brasil, demonstrando que tais mamíferos podem albergar uma gama de agentes transmitidos por vetores.